sábado, 13 de dezembro de 2025

Cultura, memória e orçamento público: por que não dizer não ao show de Roberto Carlos em Caxias

 


Por Evandro Brasil 

Cultura: Roberto Carlos fará um show gratuito em Duque de Caxias no dia 28 de dezembro. Confesso que esse anúncio despertou em mim sentimentos profundos. Lamento, do fundo do coração, que minha mãe e minha tia não estejam mais aqui para ver o Rei cantar ao vivo em nossa cidade. Para elas — e para tantos brasileiros — Roberto Carlos sempre foi mais do que um cantor: foi trilha sonora de vidas inteiras.

Nos últimos dias, alguns amigos têm me chamado no WhatsApp pedindo que eu me manifeste contra esse show. Pedem, inclusive, que eu diga que seria melhor investir em saúde do que realizar um evento cultural desse porte. Mas, sinceramente, como eu poderia, neste momento, dizer não ao show do Roberto Carlos em Caxias?

Minha formação básica é na área da Comunicação Social e da Produção de Eventos. Sou um ser forjado na cultura. Tenho profundo respeito por aqueles que fazem cultura e por tudo o que ela representa para uma sociedade. Cultura não é luxo, não é supérfluo: é identidade, é pertencimento, é memória coletiva.

O dinheiro que financia a cultura deve, sim, ser gasto com cultura. Da mesma forma, o dinheiro que financia a saúde deve ser gasto com saúde. O mesmo vale para a segurança pública, habitação, mobilidade urbana, segurança alimentar e tantas outras áreas essenciais. Para isso existe um instrumento fundamental chamado orçamento público, que prevê fontes, rubricas e destinações específicas para cada política pública.

Desde que haja transparência, planejamento e respeito ao orçamento, não vejo problema algum na prefeitura realizar um show com Roberto Carlos, João Gomes e Zeca Pagodinho — três ícones da música popular brasileira, cada um representando estilos diferentes e dialogando com públicos diversos.

Quanto ao investimento em saúde, é evidente que ele é fundamental e inegociável. Mas a população também precisa de cultura. Muitos duque-caxienses não enfrentam problemas graves de saúde, mas também não têm condições financeiras de pagar ingressos para assistir a um show dessas proporções. Levar cultura gratuitamente à população também é uma forma de inclusão social.

Aqui faço coro com meu amigo Vicente Portella e aproveito para conclamar os governantes a darem mais oportunidades aos músicos da nossa cidade, abrindo espaço para que talentos locais também se apresentem nos palcos dos eventos oficiais de Duque de Caxias. Cultura se fortalece quando valoriza o local sem deixar de dialogar com aquilo que é produzir em outras regiões do nosso Estado e do nosso País.

O que chama atenção — e chega a ser curioso — é que muitos dos que hoje criticam esse evento, até poucos dias atrás, mamavam nas tetas da prefeitura, ocupavam cargos e tratavam a coisa pública como extensão da vida privada. Agora, posam de fiscais da moral e do orçamento.

Minha autonomia intelectual e política me permite afirmar, sem constrangimento algum, que uma cidade com um orçamento anual em torno de 5 bilhões de reais pode, sim, bancar esse e outros grandes eventos. Mais do que isso: pode e deve investir em cultura como estratégia de valorização da cidade, fortalecimento da identidade local e fomento ao turismo em Duque de Caxias.

Saúde é prioridade. Cultura também é direito. Uma coisa não exclui a outra quando há seriedade, planejamento e compromisso com o interesse público.

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Anúncio, Divulgação 



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