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Capítulos de História Colonial de João Capistrano de Abreu

Esta publicação foi produzida exclusivamente para apresentação de seminário falando sobre o autor e o livro Capítulos de História Colonial. Curso História - Unigranrio.




Capistrano de Abreu
Conhecendo o autor

O historiador João Capistrano Honório de Abreu nasceu na cidade de Maranguape, Ceará, em 23 de outubro de 1853. Fez seus primeiros estudos em rápidas passagens por várias escolas. Em 1869, viajou para Recife, onde cursou humanidades, retornando ao Ceará dois anos depois. Em Fortaleza, foi um dos fundadores da Academia Francesa, órgão de cultura e debates, progressista e anticlerical, que durou de 1872 a 1875. Foi influenciado por Tobias Barreto e Sílvio Romero. Fixou-se no Rio de Janeiro a partir de 1875, lecionou no Colégio Aquino, foi colaborador do Jornal O Globo, redator da Gazeta de Noticias e participou da vida literária da corte.

Nomeado oficial da Biblioteca Nacional, aí permaneceu de 1879 a 1883. Nesse ano defendeu a tese O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI, em concurso para o Colégio Pedro Segundo, onde conquistou o primeiro lugar.

Foi professor de corografia[1] e história do Brasil até 1899, quando foi posto em disponibilidade, por extinção da cadeira. Em 1887 foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Capistrano de Abreu renovou os métodos de investigação e interpretação historiográfica no Brasil. De início baseou-se nos princípios de Comte, Taine, Buckle, Spencer, e afirmou-se adepto do determinismo sociológico, pretendendo com seus estudos descobrir "as leis fatais que regem a sociedade brasileira".

Eleito para a Academia Brasileira de Letras, recusou-se a tomar posse. Dedicou-se ao estudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do “bom selvagem”. Morreu no Rio de Janeiro, aos 74 anos, em 13 de agosto de 1927. É patrono da cadeira 15 da Academia Cearense de Letras e da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Realismo histórico
Mais tarde, com o trabalho na Biblioteca Nacional e com a leitura de pensadores alemães como Ranke, Bücher, Eduard Meyer, Sombart e Wundt, evoluiu do positivismo para o realismo histórico, e a pesquisa cuidadosa e imparcial das fontes conferiu às suas interpretações um caráter objetivo.

Sua análise da civilização brasileira parte do estudo do ambiente, dos fatores geográficos, raciais, econômicos e psicológicos. De acordo com o pensamento de Buckle, ressalta a influência das massas e do homem comum na evolução histórica e diminui a importância atribuída aos chefes ou heróis.

Capistrano exerceu grande influência sobre os historiadores de sua geração, sobretudo Rodolfo Garcia, Pandiá Calógeras, Afonso Taunay e Paulo Prado. Seu estilo reflete a economia e a objetividade de sua orientação técnica.

Sua obra mais importante é Capítulos de história colonial, 1500-1580, de grande poder de síntese e que lhe confirmou a superioridade como historiador aos recenseadores de fatos, nome e datas.

Dentre suas obras destacamos:
Ensaios e Estudos (1931-33, póstumos);
Correspondência (1954, póstuma).

            Capistrano foi entusiasta do movimento denominado por Silvio Romero, como o “Surto de Idéias Novas”, este movimento consistia em aproximar-se do positivismo, do darwinismo e de outras correntes criticas ao espiritualismo.

Capítulos de História Colonial
Para Capistrano de Abreu, Varnhagen havia deixado muitas lacunas a serem preenchidas, especialmente sobre o século XVII. Como José Honório Rodrigues nos demonstra em seu prefácio, Capistrano direcionou o foco de sua pesquisa justamente para este período, pois para ele: “tirando o que diz respeito às guerras espanholas e holandesas, quase nada há para representar este século. Preencher estas colunas é, portanto, meu interesse principal.” (RODRIGUES, 1988, p. 14). Além disso, o outro ponto de fundamental importância para Capistrano era responder como se deu o povoamento da zona entre o São Francisco e o Parnaíba, tida por ele como a questão mais importante da história pátria.

Contudo, os Capítulos de História Colonial só começaram a ser escritos efetivamente em 1903. Por esta época, Capistrano fora chamado a prefaciar, anotar e corrigir justamente a obra História Geral do Brasil, de Adolfo Varnhagen. Pretendia fazer de seu livro uma introdução de aproximadamente cem páginas para cada um dos três volumes da obra de Varnhagen, fazendo uma síntese de cada período correspondente. “Se levar isto ao cabo, fica pronto o livro a que reduzi minhas ambições da História do Brasil, um volume do formato de um romance francês”.(RODRIGUES, 1988, p. 16). Porém, suas intenções quanto a obra de Varnhagen foram reduzidas pelo contratante a um único volume e suas introduções reduzidas a notas, comentários e identificações de fontes.

Em 1905, Mário Behring, funcionário da Biblioteca Nacional e proprietário da revista Kosmos, lhe chama para escrever artigos sobre história do Brasil para sua revista. Capistrano vê a oportunidade de lançar seu livro através de capítulos nesta revista e assim começa a escrever, sob o título de História Pátria, um capítulo a cada mês. Segundo José Honório Rodrigues, o texto publicado na revista Kosmos diferia daquele que seria publicado nos Capítulos de História Colonial em 1907. Alguns artigos eram capítulos bem resumidos do que seria o livro, como é o caso do Capítulo II e, outros artigos, nem chegaram a figurar no livro, como foi o caso dos artigos de Maio e Julho. No fim, dos seis artigos escritos para a revista Kosmos, quatro seriam aproveitados nos Capítulos de História Colonial. (RODRIGUES, 1988, p. 19).

Em 1906, Capistrano aceita participar da obra O Brasil, suas riquezas naturais, suas indústrias, que seria lançado por iniciativa do Centro Industrial do Brasil em setembro daquele ano. Sua obra faria parte do primeiro volume, na parte introdutória, e seria intitulada Breves Traços da História do Brasil ou Noções de História do Brasil até 1800, como acabou sendo referenciada no índice da obra do Centro Industrial. Capistrano começou a trabalhar no seu texto em janeiro de 1906, trabalhando à toda força em um esboço histórico e geográfico do Brasil. “Marcaram-me o limite de 120 páginas (…) e tenho cinco meses para fazer tudo”. Em novembro de 1906, faltava apenas o seu esboço para que a obra fosse publicada. Em janeiro de 1907, concluiu o livro contendo trezentas páginas e chegando até o período anterior a D. João VI. Levara praticamente um ano para escrevê-la, de 2 de janeiro de 1906 à 7 de janeiro de 1907. A encomenda feita pelo Centro Industrial não se limitava ao período colonial, mas estendia-se até a República. Capistrano acreditava que poderia “em dois ou três meses escrever a história contemporânea”, mas nunca chegou a escrevê-la, sendo este trabalho o entregue para a publicação (RODRIGUES, 1988, p. 20-23).

Devido ao atraso de Capistrano em entregar seu trabalho, a revisão foi feita às pressas e não houve tempo hábil para a colocação de trechos transcritos e para citar as fontes. Ironicamente, faltava em seu trabalho aquilo que ele acidamente criticava no trabalho de outros, como o próprio Varnhagen, as fontes. Por essa e por outras razões mais psicológicas, assim que entregou seu texto para a publicação, já não gostava mais dele. Tinha a intenção de reeditá-lo rapidamente e corrigi-lo, incluindo as notas e referências bibliográficas que faltaram na primeira edição. Chegou até mesmo a propor a reimpressão do livro no fim daquele mesmo ano, para que fosse distribuído aos assinantes do Jornal do Comércio, mas nunca fez a revisão ou a correção de sua obra. Esta só seria realizada postumamente pela Sociedade Capistrano de Abreu, sociedade fundada por amigos e admiradores para manter a sua memória.

Assim, Capítulos de História Colonial, é um livro produzido às pressas, sobre a pressão de ser publicado rapidamente, em função do cronograma de projeto do livro onde ele estaria inserido. Apesar disso, em nada esta obra fica a dever aos outros clássicos da História do Brasil, tendo ela mesma já nascida um clássico, tal como afirma Francisco Iglesias:

“Capítulos de História Colonial foi um dos grandes livros da historiografia  brasileira. Foi o primeiro grande sobre a colônia, só sendo superado como o maior em 1942 com o lançamento de Formação do Brasil Contemporâneo, por Caio Prado Júnior”. (IGLESIAS, 2000, p. 117-125).

Já Fernando Novais, ao fazer o prefácio da edição estadunidense do livro de Capistrano, editado pela Oxford University Press em 1997, dizia sobre Capistrano de Abreu e sua obra:

“Capistrano de Abreu built a bridge between the first (IHGB) and third (university) phases of brazilian historiography (…) a comprehensive history, with its integrating dialogue with the social sciences, is the distinguishing trait of modern Brazilian historiography, which began in the 1930 with the work of a particular generation: Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. and Sérgio Buarque de Holanda – as well as with the founding of universities”. (NOVAIS, 1997, p. XIV).”
Tradução:
“Capistrano de Abreu construiu uma ponte entre a primeiros ( IHGB ) e a terceira (universidade) fases da historiografia brasileira ( ... ) uma história abrangente , com seu diálogo integração com as ciências sociais , é o traço distintivo da moderna historiografia brasileira , que começou no 1930, com o trabalho de uma geração específica: Gilberto Freyre , Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda - bem como com a fundação de universidades”



Antecedentes Indígenas
            A obra Capítulos de Historia Colonial é dividida em onze minuciosos capítulos. No primeiro capitulo, de nome Antecedentes Indígenas ele inicia descrevendo detalhadamente a localização e os limites da nossa terra, utiliza-se de referencia como a linha do Equador, Trópico de Capricórnio, os limites fronteiriços, os domínios das terras limítrofes, dentre tantos outros detalhes como a vegetação característica de cada uma das regiões, os volumes de águas nos rios e mares.

Capistrano ainda neste capitulo descreve a nossa fauna, explica ainda a característica dos animais predominantes em nossa terra, pavimentando a gramática quem vem a enaltecer o índio nativo, suas características, seus costumes, a organização social, e também a linguagem peculiar a cada etnia, etc.

“Falavam línguas diversas, quanto ao léxico[2], mas obedecendo ao mesmo tipo: o nome substantivo tinha passado e futuro como o verbo; o verbo intransitivo fazia de verdadeiro substantivo; o verbo transitivo pedia dois pronomes, um agente e outro paciente: a primeira pessoa do plural apresentava às vezes uma flexão inclusiva e outra exclusiva; no falar comum a parataxe[3] dominava. A abundância e flexibilidade dos supinos facilitaram a tradução de certas idéias européias. Fundada no exame lingüístico a etnografia moderna conseguiu agregar em grupos certas tribos mais ou menos estreitamente conexas entre si. No primeiro entram os que falavam a língua geral, assim chamada por sua área de distribuição. Predominavam próximo de beira-mar, vindos do sertão, e formavam três migrações diversas: a dos Carijós ou Guaranis, desde Cananéia e Paranapanema para o Sul e Oeste; os Tupiniquins, no Tietê, no Jequitinhonha, na costa e sertão da Bahia, na serra da Ibiapaba; os Tupinambás no Rio de Janeiro, a um e outro lado baixo S. Francisco até o Rio Grande do Norte, e do Maranhão até o Pará. O centro de irradiação das três migrações deve procurar-se entre o rio Paraná e o Paraguai. (pag. 20)

Nos outros grupos falavam-se as línguas travadas: os Gés, representados pelos Aimorés ou Botocudos próximo do mar, e ainda hoje numerosos no interior; os cariris disseminados do Paraguaçu até Itapecuru e talvez Mearim, em geral pelo sertão, conquanto os Tremembés habitassem as praias do Ceará; os Caraíbas, cujos representantes mais orientais são os Pimenteiras, no Piauí, ainda hoje encontrados no chapadão e na bacia do Amazonas; os Maipure ou Nu-Aruaque, que desde a Guiana penetraram até o rio Paraguai e ainda aparecem nas cercanias de sua antiga pátria, e até no alto Purus; os Panos, os Guaicurus, etc., etc. Se abstrairmos do Amazonas, onde havia muitos Maipure e não poucos Caraíbas, só os Tupis e os Cariris foram incorporados em grande proporção à atual população do Brasil. (pag. 21)

Os Cariris, pelo menos na Bahia e na antiga capitania de Pernambuco, já ocupavam a beira-mar quando chegaram os portadores da língua geral. Repelidos por estes para o interior, resistiram bravamente à invasão dos colonos europeus, mas os missionários conseguiram aldear muitos e a criação de gado ajudou a conciliar outros. Talvez provenha dos Cariris a cabeça chata, comum nos sertanejos de certas zonas.” (pag. 21)

            Neste recorte do Capitulo I, destacamos onze etnias identificadas por Capistrano: Carijós ou Guaranis; TupiniquinsTupinambás; Aimorés ou Botocudos; Cariris; Tremembés; Caraíbas; Maipure ou Nu-Aruaque; Panos; Guaicurus; Tupis

Fatores Exóticos
Neste capitulo Capistrano inicia trazendo a lembrança da Europa no século XVI, a transição da Idade Média para a Idade Moderna, influenciada pela crise do feudalismo, reforma religiosa motivada pelo protestanismo de Martinho Lutero e o mercantilismo.  Ele afirma que a coroa portuguesa se submetia a autoridade e ao conservadorismo da Igreja Catolica.

“O Estado reconhecia e acatava as leis da Igreja, executava as sentenças de seus tribunais, declarava-se incompetente em quaisquer litígios debatidos entre clérigos, só punia um eclesiástico se, depois de degradado, era-lhe entregue por seus superiores ordinários, respeitava o direito de asilo nos templos e mosteiros para os criminosos cujas penas eram de sangue, abstinha-se de cobrar impostos do clero.
A Igreja dominava soberana pelo batismo, tão necessário à vida civil como à salvação da alma; pelo casamento, que podia permitir, sustar ou anular com impedimentos dirimentes; pelos sacramentos, distribuídos através da existência inteira; pela excomunhão, que incapacitava para todos eles; pelo interdito, que separava comunidades inteiras da comunicação dos santos; pela morte, permitindo ou negando sufrágios, deixando que o cadáver descansasse em lugar sagrado junto aos irmãos ou apodrecesse nos monturos em companhia dos bichos; dominava pelo ensino, limitando e definindo as crenças, extremando o que se podia do que não era lícito aprender ou ensinar.” (pag. 23, 24)
           
O autor justifica que o Estado repartia o seu poder, por meio de “mixti fori”[4]:

“(...) prestava o braço secular para executar, até com morte violenta, os condenados pelo juízo eclesiástico, duramente castigava certos atos só porque a Igreja os considerava pecaminosos; (...)” (pag. 24)
           
Nesta organização tinha-se o Papa como o cabeça da sociedade religiosa e o rei no controle do poder jurídico da sociedade civil, concentrando o Poder Absoluto, mas, em alguns momentos essa relação resultava em constantes atritos, normalmente em função da Igreja não abrir mão de suas atribuições antigas, e o Estado em função de descobrir e criar novas atribuições.

            Capistrano ainda define claramente o papel do Estado, o direito real e como tal poder influenciava a vida da sociedade que estava a ele submetida. Destacando que sobre o Rei concentrava todas as faculdades legislativas. Já abaixo do Rei estava a nobreza, que já teve grande poder, porem, nesta ocasião estava concentrada com o monopólio dos cargos públicos ou no aconselhamento da coroa e de certa forma ainda detinha muitos privilégios. A nobreza não era uma casta exclusiva, era comum os homens letrados fazerem parte da nobreza.

“(...) a nobreza, numerosa em famílias como nas distinções que separavam umas de outras, compreendendo desde os senhores donatários, com honras, coutos e jurisdição, e os grão-mestres das ordens militares, cujo mestrado o rei houve por bem afinal assumir, até simples cavaleiros e escudeiros.” (pag 25)

Abaixo da nobreza estava o povo, este, sem direitos pessoais era formado por lavradores, mecânicos, mercadores, etc. e, os de melhores qualidades eram chamados “homens bons”. Os homens bons, relata o autor, se reuniam em câmaras municipais, órgão de administração local que discutiam sobre problemas de pequena monta. As pessoas de reconhecidos valores morais podiam se filiar a corporações limitadas como as de moedeiro e bombardeiros ou ainda coletividades maiores como por exemplo a do Porto. Os homens membros destas corporações tinham algum prestigio e o autor descreve alguns privilégios designados por dom João II aos cidadãos do Porto:

“A estes felizes cidadãos do Porto concedeu dom João II: que não fossem metidos a tormentos por nenhuns malefícios que tivessem feito, cometido e cometessem e fizessem daí por diante, salvos nos feitos e daquelas qualidades e nos modos em que o devem ser e são os fidalgos do reino e senhores; que não pudessem ser presos por nenhum crime, somente sobre suas menagens e assim como o são e devem ser os fidalgos; que pudessem trazer e trouxessem por todos os seu reinos e senhorios quais e quantas armas lhes aprouvesse de noite e de dia, assim ofensivas como defensivas; que não pousassem com eles nem lhes tomassem suas casas de moradas, adegas, nem cavalariças, nem suas bestas de sela, nem outra nenhuma coisa de seu contra suas vontades e lhes catassem e guardassem muito inteiramente suas casas, e houvessem com elas e fora delas todas as liberdades que antigamente haviam os infanções e ricos homens; que os serviçais agrícolas só fossem à guerra com os patrões.” (pag. 25)

Abaixo do povo havia ainda os servos, escravos, dentre outros, cujo direito
único poderiam, dadas circunstâncias favoráveis, passar à classe imediatamente superior. As três classes: do clero, da nobreza e do povo, eram convocados nas ocasiões solenes ou por arbitragem do rei e constituíam as Cortes. No Brasil a ultima Corte reuniram-se em 1697.

“(...) quando o ouro das Gerais começava a deslumbrar o mundo, e só reviveram com a revolução francesa, as guerras napoleônicas e a independência real do Brasil, depois de trasladada para aqui a sede da monarquia portuguesa.” (pag. 26)

Ainda neste capitulo o autor da a conta de que em 1527 a soma total dos fogos[5] em todo o Reino andava por 280.528, dando a cada um destes números de quatro indivíduos, o totalizando cerca de 1.122.112 pessoas.

“Damião Góis, explicando em 1541 à opinião letrada da Europa a razão dos seus atrasos em Portugal e Espanha, afirma ser a fertilidade espontânea do solo tamanha que a maior parte do ano os escravos e os homens pobres se podem sustentar lautamente de frutos silvestres, mel e ervas, o que os faz pouco propensos ao trabalho agrícola.” (pag. 26)

Capistrano cita que o livro de Costa Lobo[6] que mostrará o caráter dominante do
povo ao começar a era dos descobrimentos.

O português do século XV era fragueiro[7], abstêmio[8], de imaginação ardente, propenso ao misticismo, personalidade forte, autentico, e de coração rijo, impiedoso, condenava com a morte pequenos delitos. Naqueles tempos a segurança das famílias dependia de grande força e energia individual. A violência e a dor parecia algo normal em determinado período, e a força muscular era tida em grande apreço.

“Ao português estranho ao continente cumpre juntar o negro, igualmente alienígena. A importação começou desde o estabelecimento das capitanias e avultou nos séculos seguintes, primeiro por causa da cultura da cana, mais tarde por causa do fumo, das minas, do algodão e do café. Depois da supressão do tráfico em 1850, o café provocou deslocações consideráveis na distribuição interna; o mesmo efeito produziu a abolição”. (pag. 27)
           
Segundo o autor, os primeiros escravos trazidos para o Brasil vieram da costa ocidental, descendentes do grupo banto[9], depois vieram de Moçambique. Esses negros tinham bom porte físico, grande resistência ao trabalho, ao contrário do índio brasileiro. Os negros acabaram por penetrar na vida doméstica dos seus senhores por meio da “ama de leite” e pela mucamba, acabaram a partir de então em se tornar indispensável pela sua índole carinhosa.

“A mestiçagem com o elemento africano, ao contrário da mestiçagem com o americano, era vista com certa aversão, e inabilitava para certos postos. Os mulatos não podiam receber as ordens sacras, por exemplo (...). Com o tempo os mulatos souberam melhorar de posição e por fim impor-se à sociedade.
Quando reuniam a audácia ao talento e à fortuna alcançaram altas posições. O negro trouxe uma nota alegre ao lado do português taciturno e do índio sorumbático. As suas danças lascivas, toleradas a princípio, tornaram-se instituição nacional; suas feitiçarias e crenças propagaram-se fora das senzalas. As mulatas encontraram apreciadores de seus desgarres e foram verdadeiras rainhas.” (pag. 28)

Este capítulo o autor conclui com o resumo do benemérito Antonil[10] (1711): O Brasil é inferno dos negros, purgatório dos brancos, paraíso dos mulatos.

Os Descobridores
            A posição geográfica de Portugal aliada as heranças do povo árabe e da antiga Roma, já designava a vocação náutica deste reino. Mais tarde, a partir da restauração cristã Portugal produziu a marinha nacional, bem treinada por catalães e italianos. E conta Capistrano que Portugal lançava-se bravamente com suas embarcações na tentativa de encontrar o caminho mais curto para a Índia.

“(...) em 1487 Bartolomeu Dias tornou com a notícia de ter alcançado o fim do continente africano. Já de volta, no extremo Sul, quase perdera-se junto a um cabo e por isso chamou-o das Tormentas. Das Tormentas, não! protestou o rei de Portugal; da Boa Esperança” (pag. 31)
           
O autor, faz uma clara definição sobre a aventura portuguesa e também dos espanhóis, mas prefere ignorar a esperança de Vasco da Gama e se atém a resultado alcançado por Pedro Alvares Cabral.

“Interessa-nos apenas Pedr’Álvares. Comandando uma armada de treze navios partiu de Belém segunda-feira, 9 de março de 1500. O domingo passara-se em festas populares. O rei tivera a seu lado na tribuna o capitão-mor, pusera-lhe na cabeça um barrete bento mandado pelo papa, entregara-lhe uma bandeira com as armas reais e a cruz da Ordem de Cristo, a Ordem de d. Henrique, o descobridor. Sentia-se bem a importância desta frota, a maior saída até então para terras alongadas. Mil e quinhentos soldados, negociantes aventurosos, aventureiros mercadorias variadas, dinheiro amoedado, revelavam o duplo caráter da expedição: pacífica, se na Índia preferissem a lisura e o comércio honesto, belicosa, se quisessem recorrer às armas. Alguns franciscanos, tendo por guardião frei Henrique de Coimbra, comunicavam ao conjunto a sagração religiosa.” (pag. 32)
           
E segundo Capistrano as cartas indicavam o ultimo ponto conhecido como Cananor, com vista a Serra do Mar, o que ele acredita ser a região de Cananeia, São Paulo, os relatos diferem de Caminha ao fazer a afirmativa de que os nativos selvagens, rancorosos, sanguinários e antropófagos[11], ali encontrado seria material mais próprio para escravatura do que para a conversão. E ele neste capitulo ainda descreve detalhada e cuidadosamente as relações dos primeiros exploradores com a coroa de Portugal, as buscas pelas riquezas, a exploração do pau-brasil, e, também na relação com o povo indígena.

Primeiros Conflitos
            E chegamos ao quinto capitulo de seu livro, como o tema “Primeiros Conflitos”, aqui ele relata a tensa relação dos portugueses com os franceses. Portugal prevalecia-se do acordo papal que dava a ele o direito as terras.

“Ainda por cima havia a questão de princípio: Portugal não admitia que os filhos de outra nação pusessem o pé em terras suas no além-mar.” (pag. 39)

Os produtos aqui explorados, os portugueses tinham que levar a Lisboa e pagar a parte que cabia a coroa, o que tornava o preço final dos produtos menos competitivos que os dos franceses, que não passavam em Lisboa e não pagavam impostos.

Os nativos Tupiniquins e os Tupinambás eram inimigos mortais, e assim chamavam uns aos outros e na lógica da guerra não poderia ser diferente.

“Porque os Tupinambás se aliaram constantemente aos franceses e os portugueses tiveram a seu favor os Tupiniquins, não consta da história, mas o fato é incontestável e foi importante; durante anos ficou indeciso se o Brasil ficaria pertencendo aos Peró (portugueses) ou aos Maïr (franceses)”. (pag. 40)
           
Os portugueses protestavam ao rei de Portugal contra a presença dos franceses no Brasil, até que no ano de 1527 o Rei dom João III designa uma armada de guarda-costas sob o comando de Cristovão Jacques que inicia uma caça ao entrelopos[12]. Este por sua vez não se contentava em tirar as vidas, mas praticava torturas e entregava os prisioneiros aos antropófagos. E como solução para impedir a ação de estrangeiros estava no povoamento das terras. O que foi feito.





            O rei de Portugal dom João III no ano de 1532 escreve a Martin Afonso de Souza a resolução que autoriza a demarcação da costa de Pernambuco ao Rio da Prata e doá-las em capitanias de 50 léguas. Os documentos mais antigos de doação das capitanias datam do ano de 1534.

            Os donatários saíram em geral da pequena nobreza, muitos nunca haviam vindo ao Brasil antes.

“O rei cedeu às pessoas a quem doou capitanias alguns dos direitos reais, levado pelo desejo de dar vigor ao regime agora organizado.” (pag 45)
           

Capitanias Hereditárias

Esses donatários passaram a ser os senhores de suas terras, com jurisdição civil e criminal, podendo fundar vilas, insígnias etc. Poderiam nomear ouvidores, tabeliões públicos ou judicial, poderiam também doar terras, exceto a própria mulher e filho herdeiro. Em contra partida recolhiam a coroa os dízimos, as vintenas, os quintos etc.

“As capitanias foram doze, embora divididas em maior número de lotes. Começavam todas à beira-mar, e prosseguiram com a mesma largura inicial para o ocidente, até a linha divisória das possessões portuguesas e espanholas acordada em Tordesilhas, linha não demarcada então, nem demarcável com os conhecimentos do tempo. Tàcitamente fixou-se o limite na costa de Santa Catarina ao Sul, e na costa do Maranhão ao Norte. A testada litorânea agora dividida estendia-se assim por 735 léguas.” (pag 47)



Capitanias da Coroa
            No capitulo VI de seu livro, intitulado “Capitanias da Coroa”, inicia o autor com noticias de que algumas Capitanias sofriam vez ou outra com ataques dos franceses que buscavam sempre um caminho para chegar ao litoral e a com a resistência dos índios, mas com o passar do tempo e com a promoção da mestiçagem a população ia se renovando e desenvolvendo a caminho da normalidade. Não bastasse a investida dos índios e dos franceses, ainda houve a má administração das capitanias, que obrigaram ao Rei a retomar algumas terras para reordenar e garantir o desenvolvimento e a governabilidade. No ano de 1549 sem abolir todo o sistema feudal antes implantado, o rei da inicio a um novo regime.

            Foi instituído um capitão-mor, incumbido da administração civil e militar, de um
provedor-mor, encarregado dos negócios da fazenda, de um ouvidor-mor, chefe da justiça. Inicialmente foram enviados junto a Tomé de Souza seis jesuítas.

            Esta ação resulta no enfrentamento aos nativos e também aos franceses, e foi primordial para que fossem fundadas algumas capitais como por exemplo São Sebastião do Rio de Janeiro em 1º de março do ano de 1565.

“Ensinam-lhes os padres todos os dias pela manhã a doutrina, esta geral, e lhes dizem missa, para os que a quiserem ouvir antes de irem para suas roças; depois disso ficam os meninos na escola, onde aprendem a ler e escrever, contar e outros bons costumes, pertencentes à  polícia cristã; à tarde tem outra doutrina particular a gente que toma a Santíssimo Sacramento. Cada dia vão os padres visitar os enfermos com alguns índios deputados para isso; e se têm algumas necessidades particulares lhes acodem a elas; sempre lhe ministram os sacramentos necessários... O castigo que os índios têm é dado por seus meirinhos feitos pelos governadores e não há mais que quando fazem alguns delitos, o meirinho os manda meter em um tronco um dia ou dois, como ele quer; não tem correntes nem outros ferros da justiça... Os padres incitam sempre aos índios que façam sempre suas roças e mais mantimentos, para que, se for necessário, ajudem com eles aos portugueses por seu resgate, como é verdade que muitos portugueses comem das aldeias, por onde se pode dizer que os padres da Companhia são pais dos índios, assim das almas como dos corpos”. (pag. 58)

            Com a organização das Capitanias, os índios naturalmente migraram para o interior, e pela necessidade de obter mão-de-obra para a produção e também na procura aos metais preciosos, ocorriam constantes expedições e os índios em sua ingenuidade era enganado pelo homem branco que oferecia liberdade e convivência pacifica, mas ao chegar ao dispor os índios de seus paramentos os aprisionavam e vendiam como escravos.

Franceses e Espanhóis
            Capistrano relata que a partir de 1580, com a unificação do reino de Portugal com o da Espanha, veio a ampliar os limites das nossas terras. O Amazonas e o Rio da Prata que eram de domínio dos Espanhóis acabou por ser incorporado ao nosso território. E ele descreve com clareza:

“Vindo do sul, encontrava-se a Cananéia habitada por gente ida da capitania de São Vicente, que também procurava recôncavo de Angra dos Reis, e já se comunicava com a cidade de São Sebastião, pela baixada de Santa Cruz, onde os jesuítas começavam uma fazenda famosa. Nas terras do Cabo Frio os franceses continuavam a freqüentar, (...) com menor proveito. Por fim, Constantino Menelau, depois de vencê-los, obstruiu o porto (...). Flagelados pelas bexigas[13], os Guaitacás aproximaram-se dos brancos que os poderiam socorrer. Para a conciliação muito contribuiu o jesuíta Domingos Rodrigues. Este mesmo Domingos Rodrigues, mais tarde (...), em Ilhéus, Álvaro Rodrigues Adôrno, na Cachoeira, levaram a bom termo a pacificação dos Aimorés. (...) do Rio até a cidade do Salvador cessaram temporariamente suas devastações os tão temidos Tapuias do litoral (...). Ao Norte da Bahia apresenta-se como mais notável o fato da conquista de Sergipe. (...) Com os dois jesuítas mandados a este fim partiram os soldados e mamalucos, ávidos de escravos, que plantaram a sizania[14] entre os Tupinambás, e alienaram sua confiança.” (pag. 63)
           
Muitos conflitos ainda estavam por vir, tanto com as diversas etnias dos nativos e com os franceses que insistiam em ocupar território. Por volta de 1618 os territórios dominados se reorganizavam e surge revela-se a figura dos senhores de engenho.

“A camada ínfima da população era formada por escravos, filhos da terra, africanos ou seus descendentes. (...). Acima deste (...), seguiram-se os portugueses de nascimento ou de origem, sem terra, porém livres: feitores, mestres de açúcar, oficiais mecânicos, vivendo do seus salários ou do feitio de obras encomendadas; (...) Entre os proprietários rurais ocupavam lugar modesto os lavradores de mantimento e os criadores de gado (...). Coroava esta hierarquia o senhor de engenho. Havia engenhos movidos por água e
por bois; servidos por carros ou por barcos; situados à beira-mar ou mais apartados, (...). O engenho real devia possuir grandes canaviais, lenha abundante, boiada capaz ou barcos e barqueiros suficientes, escravatura, (...) alguns possuiam igreja, capelão melhor remunerado que os vigários,(...). O senhor de engenho opulento remetia a safra diretamente para o Reino, e
recebia o pagamento do além-mar em fazendas finas, vinhos, farinha de trigo, em suma, coisas de gozo ou de luxo.” (pag. 75)
           
Os espanhóis expulsaram os franceses e avançaram na demarcação e integração do Amazonas ao território brasileiro.

Guerras Flamengas
            Neste capitulo Capistrano se dedica a nos transmitir um importante conflito ocorrido a partir da unificação do reino de Portugal e Espanha em função das relações econômicas de Portugal com Flandres[15].

            O Rei da Espanha e os países baixos já viviam em grande crise, ao contrário da Espanha, Portugal bem se relacionava com os flamengos. Estes mantinham relações comerciais, pois Portugal lhes fornecia produtos diversos, a partir de Lisboa. Já os flamengos distribuíam os produtos advindo de Lisboa ao Norte e Ocidente da Europa.

“Modificou-se esta situação vantajosa para ambas as partes quando a monarquia espanhola abarcou a península inteira e os inimigos de Castela passaram a ser os de Portugal. Em 1585, Filipe II mandou confiscar os navios flamengos ancorados em seus portos, aprisionando-lhes as tripulações. O mesmo se fez em 1590, 1595, 1599.” (pag. 80)

            Diante do fechamento dos portos portugueses se fazia necessário encontrar ao norte da Ásia outro caminho marítimo para a China e Índia, transferir a atividade comercial para o mediterrâneo e apossar-se do estreito de Magalhães[16].
            No ano de 1602 é criada a Companhia das Índias Orientais[17], o sucesso empreendido por esta experiência inspirou, em 1621 na criação da Companhia das Índias Ocidentais. Esta reunia capital de investidores de diversas regiões, e a região a que pretendia explorar era África, do Trópico de Câncer ao Cabo da Boa Esperança, e ao Ocidente, desde Terra-Nova[18], no Atlântico, até o estreito de Aniã[19] no Pacífico. Embora esta nova companhia tenha deixado a sua marca nos EUA, nas Antilhas e no Chile, o autor se dedica apenas as suas incursões no Brasil.

            Em 8 de maio de 1623 eles desembarcam pela primeira vez no Brasil, na baía de Todos os Santos, já em 1624 conseguem o monopólio na exportação do sal brasileiro. Ainda em 9 de maio de 1623 a tripulação dos países baixos desembarcam sob ameaça de fogo na Bahia.

“À noite, bispo, eclesiásticos, os moradores que puderam abandonaram a cidade. Ao amanhecer, além de escravos e gente baixa sem nada a perder, encontravam-se apenas o governador e alguns fiéis na cidade deserta. Com facilidade os invasores prenderam-nos e mais tarde mandaram-nos para a Holanda. Os fugitivos acomodaram-se como puderam em engenhos próximos, aldeias de índios, debaixo de árvores, ao céu aberto (...).” (pag. 83)

            Rapidamente um novo governador foi nomeado para a Salvador, Matias de Albuquerque Coelho, estava em Pernambuco, e lá mesmo nomeou dois capitães-mor, um desembargador, mas de fato, por razões não explicitas quem acabou governando de fato foi o bispo Dom Marcos Teixeira.

            A armada da coroa cercou a cidade, e por não estarem providos de pólvora, enfrentaram os invasores com armas brancas, e por meio de tocaias e emboscadas. O espírito patriótico foi elevado a partir do momento que havia-se êxito contra os invasores. No porto alguns navios portugueses se posicionavam de forma a avisar aos outros que navios que se aproximassem de não aportar para não serem aprisionados pelos invasores. Johannes Van Dorth que liderava as operações holandesa foi morto em uma emboscada, seu sucessor Albert Schout, vivia meio as festividades e por uma enfermidade, veio a falecer, e seu irmão Willem Schout, não assumiu a liderança da investida. Ao mesmo tempo o Rei e o primeiro ministro da Espanha enviam para o novo continente uma armada de mais de 12 mil homens em navios fretados.

“A armada chegou à Bahia sábado de aleluia, 29 de março de 1625, no mesmo dia que aí aportara Tomé de Sousa, o fundador da cidade, setenta e seis anos antes. Formou em meia-lua, da ponta de Santo Antônio à de Itapagipe, fechando a saída aos navios holandeses ancorados. A tropa desembarcou em Santo Antônio e tomou logo posição em São Bento, Palmeiras, Carmo e outros morros. A 2 de abril travou-se o primeiro combate, seguido de outros. O cerco apertou-se por terra e por mar. Os sitiados foram obrigados a render-se. A 30 de abril assinava-se a capitulação. A 1º de maio abriram-se as portas e entrou o exército vencedor. A 26 apareceu na barra o socorro holandês, trinta e quatro naus, comandadas por Boudewyn Hendrikszoon. Ambas as armadas evitaram porém travar novos combates e os holandeses foram piratear em outras regiões mais indefesas.” (pag. 85)

            Nos anos seguinte os holandeses continuaram a investir na costa brasileira, e obteve grande êxito no litoral de Cuba, quando aprisionaram uma frota espanhola obtendo um lucro de mais de 14 milhões somente nessa investida. Este investida foi liderada por Pierre Heyn no ano de 1628. Em14 de fevereiro de 1630 os holandeses com uma poderosa armada atacaram a Capitania de Pernambuco, desembarcando em Olinda. Não havendo outra alternativa, o governador de Pernambuco mandou atear fogo nas embarcações e nos armazéns para que os holandeses não se apropriassem das riquezas e das embarcações.

“A população abandonou a vila e procurou abrigo nos matos e nos
engenhos. A soldadesca invasora entregou-se ao saque e à embriaguez.(...)” (pag. 85)

Recife estava em ruínas, como reação Matias e Albuquerque seguindo de encontro ao interior de Pernambuco cria o Arraial de Bom Jesus, mais precisamente a 20 léguas de Recife e Olinda e junto ao Riacho Parnamirim. Logo outros aventureiros, gente da terra, índios, senhores de engenho e seus escravos foram se chegando com a ancia de lutar e com total desprezo pela morte. Capistrano afirma o pensamento de Matias de Albuquerque: “de fato os Holandeses dominaram Pernambuco, mas nunca fora um fato consumado”. Com a chegada de Antonio Camarão muitas investidas foram feitas contra os holandeses, que sucumbiam com pequenas baixas. A fome, a nudez, a falta de médicos, dentre outras dificuldades passavam despercebidas aos seguidores de Matias e Camarão.

Nesse período os holandeses fundaram a Ilha de Itamaracá[20] e o Forte de Orange. Depois de cinco anos os Holandeses já dominavam do Rio Grande ao Recife.

Em 7 de setembro partiu de Cabo Verde para Pernambuco uma armada formada de navios espanhóis e portugueses, e, enquanto os holandeses retiravam 5 embarcações carregadas de açúcar, pau-brasil, tabaco, algodão e gengibre, os representantes da coroa desembarcavam em Olinda.

Em janeiro de 1637, João Mauricio, conde de Nassau-Siegen, membro da família real holandesa, desembarca em Pernambuco com a designação de Governador-Geral, para cumprir um período de 5 anos de governança. Os portugueses se concentravam na Bahia, então capital do Brasil enquanto os holandeses exploravam, queimavam aldeias, aprisionavam e eliminavam aqueles que se opusessem as suas investidas, se apropriavam dos gados e colheitas. Já estava sob domínio holandês a região de Pernambuco, Paraíba e Sergipe.
Em 16 de Março de 1638 Mauricio de Nassau, com 3.800 soldados europeus e 1.000 índios, investiu contra a baía de Todos os Santos, sem lograr êxito. Deis de muita carnificina, em 26 de Maio ele retorna a Pernambuco.

“A 1º de dezembro de 1640, Portugal declarou-se independente da Espanha, aclamou rei o duque de Bragança, tratou pactos de amizade com os adversários da monarquia espanhola. A 12 de junho de 1641 concluiu com a Holanda um tratado de aliança ofensiva e defensiva na Europa, e nas colônias uma trégua de dez anos, que devia vigorar para os domínios da Companhia das Índias Orientais um ano depois da ratificação do tratado, e nos da Companhia das Índias Ocidentais apenas (...). Esta cláusula pouco lisa deve ter sido lembrada pelos portugueses, na esperança de melhorarem a situação durante o interstício[21]; de outro modo não se explica terem demorado a ratificação até 18 de novembro. Em fevereiro de 1642 os Estados Gerais[22] ordenaram às duas companhias cumprissem fielmente o pactuado.” (pag. 95)

            Em 26 de Janeiro de 1754, os holandeses concentrados na guerra com a Inglaterra, deixando Pernambuco desguarnecido, tornou propenso aos portugueses retomar as regiões antes em domínio da Companhia das Índias Ocidentais. Vale esclarecer que os portugueses aqui citados, são na verdade, filhos e netos de portugueses e nasceram na região de Pernambuco, e por guardarem o sentimento de verdadeiros donos da terra se armaram, se organizaram e lutaram para expulsar os flamengos.

O Sertão
            Este capítulo compreende as páginas 103 a 177, é o mais extenso deles, e neste o autor inicia fazendo uma breve analogia entre a Capitania São Vicente á de São Paulo, fala de suas características regionais, e em dado momento afirma que em São Vicente, o solo fértil garantia a reprodução de quase todos os produtos consumidos no comercio europeu, e que São Paulo a vocação dos bandeirantes em desbravar as terras e capturar indígenas falou mais alto. Capistrano enriquece o texto ao afirmar que talvez o termo bandeirante, segundo Anchieta, tenha sua origem no costume tupiniquim em erguer uma bandeira em sinal de guerra. E, também o quanto era importante a presença de um capelão, frade, ou outro religioso nas incursões dos desbravadores. Pois cabia a eles tomar a confissão daqueles que fossem vitimas de algo que viesse a tirar-lhes a vida.

            Há escassez de livros que contem as historias dos bandeirantes, os que Capistrano conheceu diziam sempre a mesma história:

“(...) homens munidos de armas de fogo atacam selvagens que se defendem com arco e flecha; à primeira investida morrem muitos dos assaltados e logo desmaia-lhes a coragem; os restantes, amarrados, são conduzidos ao povoado e distribuídos (...).” (pag. 105)
           
Ele descreve os territórios desbravados pelos bandeirantes, que chegavam as fronteiras com o Paraguai e Uruguai, além de chegar a comunicar-se a boca do Amazonas acima do Mato Grosso. Esses eram formados predominantemente pelo mamelucos.

“Os jesuítas chamam à gente de São Paulo mamalucos, isto é, filhos de cunhas índias, denominação evidentemente exata, pois mulheres brancas não chegavam para aquelas brenhas.” (pag. 105)
            Os jesuítas por sua vez cumpriam a missão da catequese grandiosa, que não consistia somente em verter orações e o evangelho para a língua geral, mas no âmbito religioso, fazê-los repetir pela multidão enquanto eram observados durante as missas.

            Para revidar ao ataque de nativos no interior da Bahia e ao norte do Rio São Francisco, foram chamados os paulistas mamelucos. Eram tribos ousadas e valentes que se reuniram em torno do Paraguaçu. Em 4 de Março de 1669, o governador da Bahia declarou guerra aos nativos, e os bandeirantes advindos de São Paulo foram designados a esta guerra que durou muitos anos.

“Das expedições feitas pelo interior conhecemos as de Domingos Jorge Velho, Matias Cardoso de Almeida, Morais Navarro, todos empregados em combater os paiacus, janduís, icós, nas ribeiras do Açu e do Jaguaribe. Domingos Jorge auxiliou a debelação dos Palmares, mocambo de negros localizado nos sertões de Pernambuco e Alagoas, que já existia antes da invasão flamenga e zombara de numerosas e repetidas tropas contra ele mandadas. Ficou assim livre todo o território entre as matas do cabo de Santo Agostinho e Porto Calvo.” (pag. 110)

            A maior parte dos bandeiras não retornaram a sua terra, preferiram a vida de grandes proprietários nas terras conquistadas, sendo visto a partir de então de povoadores da região de São Paulo a conquistadores, erguendo suas residências fixas as margens do Rio São Francisco e do Rio das Velhas. Mas os paulistas foram além, muitos investiram em pesquisa mineral à busca de riquezas, e conseqüentemente criaram algumas vilas ao longo dos leitos dos rios.

            Os paulistas são reconhecidos pelas conquistas do sertão, e os Palmares de Pernambuco foi o grande marco para a conquista do Ceará, Rio Grande do Norte, sertão da Paraíba e do Pernambuco em si. O governo investiu na construção de grandes engenhos na região e para o trabalho usava-se a ajuda de índios e no trabalho pesado a mão de obra de escravos africanos. No Maranhão foi criado um Estado independente, devido a dificuldade de comunicação marítima com a região. Isto data de 1621, e seu território iria do Ceará ao Pará.

            Por volta do ano de 1641 os holandeses desembarcam no Maranhão, dominando a região, amparados pelo tratado assinado com rei D. João IV. O ambiente era hostil e os índios trucidaram os holandês, que mais tarde retornaram a ali permaneceram até 1654.

No ano de 1693 foram determinados os territórios em que cada uma das ordens poderia estabelecer missões: aos jesuítas concedeu-se a margem meridional do Amazonas; aos franciscanos as terras de cabo do Norte até o rio Urubu; aos carmelitas coube o rio Negro.” (pag. 122)

            Capistrano reserva nesse capitulo algumas linhas para apresentar-nos o padre Antonio Vieira, este cumpria na Europa a sua missão religiosa, mas motivado pelas historias contadas de Fernão Cardim sobre as experiências do Padre Anchieta, Vieira guardava em ti a aspiração em também missionar no Brasil. Antonio Vieira chega ao Brasil em 16 de janeiro de 1653 na companhia de três outros jesuítas, e como protetor dos indígenas tinha grandes desafios a enfrentar.
“Com os índios só havia duas políticas racionais: ou deixá-los aprisionar à vontade como então se fazia, ou proibir expressamente toda e qualquer escravidão. Nenhuma das duas observaram quer o governo, quer os próprios jesuítas”. (pag. 120)

Texto do Padre Antonio Vieira, que o autor descreve como sendo a vivida descrição da economia naturista.

"Os alicerces assentaram sobre sangue, com sangue se foi amassando e ligando o edifício e as pedras se desfazem, separam e arruínam. As terras se esterilizam; as plantações de mandioca não bastam para garantir o sustento; tem-se de buscar longe as madeiras e as terras de tabaco; minguaram a caça e a pesca; as povoações são muito distantes umas das outras e o trabalho de remar consome as forças da indiada. Não há açougue, nem ribeira, nem horta, nem tenda para vender as cousas usuais para o comer ordinário, nem ainda uma arrátel de açúcar, com se fazer na terra. No Pará, onde todos os caminhos são por água, não há uma canoa de aluguel. Para um homem ter o pão da terra há de ter roça, e para comer carne há de ter caçador, e para comer peixe, pescador, e para vestir roupa lavada, lavadeira, e para ir à missa ou a qualquer parte, canoas e remeiros: os moradores de mais cabedal têm a mais de tudo isto costureiras, fiandeiras, rendeiras, teares e outros instrumentos e ofícios de mais fábrica, com que cada família vem a ser uma república.

Os povoadores primeiros foram gente pobre: soldados idos de Pernambuco, mal pagos a ponto de raros poderem calçar sapatos e meias; ilhéus nobres, mas gente necessitada, impelida à emigração pela procura de meios não existentes no arquipélago; soldados rotos e despedidos tomados na guerra e abandonados nas costas pelos holandeses; finalmente degradados.

Não guarda proporção com a população o número de frades: o Pará, com oitenta moradores, tem quatro conventos e sai dos moradores a paga de missas, ofícios e enterros, servem grande número de confrarias com grandes e involuntários gastos nas suas festas, porque, sem serem perguntados, se ouvem apregoar dos púlpitos e não basta o que granjeiam num ano para satisfazer os empenhos desta forçada devoção. Apenas a Companhia de Jesus não pesa sobre a gente, porque a renda concedida pela fazenda real a põe a coberto das necessidades.

As drogas do estado baixaram de preço, e mal bastam para pagar os fretes; em compensação os gêneros vindos da Europa vendem-se por preços excessivos. Dominam a ociosidade, a preguiça e o luxo; grassa o alcoolismo; só na cidade do Pará gastam anualmente quinze mil cruzados em aguardente da terra, sem falar na que vai do Reino. Os governadores e oficiais de fazenda pagam-se em primeiro lugar, pouco deixando para os vigários e soldados; confiam os melhores ofícios aos criados; prendem, processam, recrutam, atravessam os gêneros.

Finalmente os índios, por sua natural fraqueza e pelo ócio, descanso e liberdade em que se criam, não são capazes de aturar por muito tempo o trabalho em que os portugueses os fazem servir, principalmente das canas, engenhos e tabacos, sendo muitos os que por esta causa continuamente estão morrendo; e como nas suas vidas consiste toda a riqueza e remédio dos moradores, é mui ordinário virem a cair em pouco tempo em grande pobreza os que se tinham por mais ricos e afazendados, porque a fazenda não consiste nas terras que são comuns senão nos frutos da indústria com que cada um os fabrica e de que são os únicos instrumentos os braços dos índios." (pag.121, 122)

            No processo de ocupação e povoamento da região do Amazonas, muitos nativos foram dizimados, em 1693 os territórios das ordens foram estabelecidos: Jesuitas à margem meridional do Rio Amazonas; Franciscanos as terras de Cabo Norte até o Rio Urubu; e Carmelitas no Rio Negro.

            Em algum momento os jesuítas espanhóis que com o apoio ou omissão do vice-rei do Peru avançavam em terras de domínio português, em 1689 essa invasão causou um certo desconforto, mas por volta de 1695, Inácio Correa de Oliveira expulsou os jesuítas de castelha que se encontravam no Solimões.

            A região aos poucos recebia melhorias, em 1692 na Ilha de Marajó foi criado um pesqueiro real e nos anos seguinte na região, houve grande desenvolvimento na criação de gado. Na Pascoa do ano de 1723 começou a funcionar um açougue em Belém. La Condamine registra que em 1743 a moeda corrente da região era grãos de cacau, mas em 1749 já se via moedas de ouro, prata e cobre.

“Em 1751, o Pará, a que agora estava subordinado o Maranhão, contava nove freguesias e seis ermidas paroquiais, sete fortalezas, vinte e quatro engenhos de açúcar, quarenta e duas engenhocas de aguardente, sessenta e três aldeias de índios missionados. Muitas medidas concertou o governo para desenvolver a agricultura, mas só o conseguiu nas cercanias de Belém. O café, levado de Caiena por Francisco de Melo Palheta, pareceu despertar o torpor da população. Pouco tempo durou a experiência; preferiu-se a apanha de produtos florestais, cravo, canela, cacau, salsa, mais rendosos e criados à lei da natureza.” (pag.124)

“Os anos seguintes à partida de Antônio Vieira para a Europa em 1661 assinalam-se pela legislação caótica a respeito de aldeias, jurisdição espiritual e temporal, descimentos, salários e escravidão dos índios. Em 1680 uma lei proibiu que os índios fossem escravizados, única solução lógica e justa, se houvesse gente bastante honesta e bastante enérgica para fazê-la respeitada. Para mitigar as queixas dos colonos criou-se uma companhia de comércio com o privilégio de vender certos gêneros de primeira necessidade, que compraria toda a produção do estado e forneceria escravos africanos, mais fortes e mais próprios para a pesada labuta agrícola.” (pag. 124)

            No Pará essa medida não teve grandes resistências, mas, no Maranhão alguns manifestos provocaram a expulsão dos jesuítas e a revolta contra o capitão-mor. Com a derrubada do capitão-mor, Manuel Bequimão líder do movimento assumiu a governança e esperava da coroa o perdão régio. Gomes Freire de Andrada foi mandado para o Maranhão destinado a assumir o cargo de Governador, e, não havendo perdão régio, instaurou processo que acabou por condenar a morte Bequimão, Jorge Sampaio e Deiró.

            Vital Maciel Parente, define resumidamente o sertão como as regiões ao longo dos rios São Francisco, Parnaíba ou Paraguaçu. A Bahia representava o objetivo e o Parnaíba o rumo a seguir. Capistrano indica que a melhor definição do sertão brasileiro esta no livro No Reino[23], de João Velho do Vale.

“Depois de dar em larga relação notícia exata dos sertões que penetrou, rios, e nações várias que os habitam, sinalando pelos graus as alturas do pólo, mais gasto do trabalho, que dos anos, veio a acabar [João Velho do Vale] em benefício da pátria, com serviços maiores que a gratidão. Descansam suas cinzas em jazigo humilde na cidade de São Salvador, onde veio consumar com último termo seus trabalhos com mais honra que interesse." (pag.125,126)

            Ainda estavam a buscar meios de comunicação eficaz por estradas e rios que facilitassem o acesso ao Maranhão, Pernambuco, Pará... Mas, já se observava fazendas de gado as margens do Rio São Francisco, e estes eram negociados com os mercados na Bahia. Os engenhos do Maranhão já estava em decadência desde o final do século XVII, pelo abandono da agricultura. Os engenhos perdiam espaços para os produtos da floresta, a exemplo do Pará: o cravo, a canela, o cacau e a castanha.

            Com o fracasso da agricultura na região do sertão, iniciou-se a cultura da pecuária, a criação de gado vacum. Este dispensava a proximidade da praia, dava-se bem em terrenos inadequados ao plantio da cana de açúcar, fornecia alimento constante. Esta cultura desenvolveu-se primeiramente em Salvador, na Bahia; estendeu-se por Sergipe as margens direita do Rio São Francisco; menos freqüente a atividade também desenvolveu-se em Pernambuco.

            Em função da expansão da atividade as margens do São Francisco novos conflitos surgiram com os índios de habitavam a região, eram numerosas tribos cariri, pimenteiras (caraíbas), tupis (amoipiras). Esses nativos não aceitavam abrir mão de suas terras e outros preferiam desfrutar dos gados que afloravam na região. Acabaram por abandonar a área, se refugiarem juntos aos jesuítas ou se aproximarem de homens poderosos. Teodosio de Oliveira Toledo e Manuel de Araujo de Carvalho por ordem de Dom João de Lacastro atacou os índios pacificando a região.

“Os primeiros ocupadores do sertão passaram vida bem apertada; não eram os donos das sesmarias, mas escravos ou prepostos. Carne e leite havia em abundância, mas isto apenas. A farinha, único alimento em que o povo tem confiança, faltou-lhes a princípio por julgarem imprópria a terra à plantação da mandioca, não por defeito do solo, pela falta de chuva durante a maior parte do ano. O milho, a não ser verde, afugentava pelo penoso do preparo naqueles distritos estranhos ao uso do monjolo. As frutas mais silvestres, as qualidades de mel menos saborosas eram devoradas com avidez. Pode-se apanhar muitos fatos da vida daqueles sertanejos dizendo que atravessaram a época do couro. De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas de faca, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, os bangüês para curtume ou para apurar sal; para os açudes, o material de aterro era levado em couros puxados por juntas de bois que calcavam a terra com seu peso; em couro pisava-se tabaco para o nariz.” (pag 130, 131)

            Vale registra que no século XVIII, as sesmarias eram demarcadas em até três léguas, limitada a uma área devoluta. Muita gente da Bahia, Pernambuco e Ceará, desse tempo, buscava o titulo honorífico de vaqueiro, pois este era a possibilidade de no futuro ser agraciado com uma sesmarias e algumas matrizes bovinas para iniciar a sua própria criação. Quanto aos que condiziam as boiadas para a Bahia, Antonil descreve:

"Constam as boiadas que ordinariamente vêm para a Bahia, de 100, 150, 200 e 300 cabeças de gado; e destas quase cada semana chegam algumas a Capoame[24], lugar distante da cidade oito léguas, aonde tem pasto e aonde os marchantes as compram: e em alguns tempos do ano há semanas em que cada dia chegam boiadas. Os que as trazem são brancos, mulatos e pretos, e também índios que com este trabalho procuram ter algum lucro. Guiam-se indo uns adiante cantando, para serem desta sorte seguidos do gado; e outros vêm atrás das reses tangendo-as e tendo cuidado que não saiam do caminho e se amontem. As jornadas são de 4, 5 e 6 léguas, conforme a comodidade dos pastos aonde hão de parar. Porém, aonde há falta de água, seguem o caminho de 15 e 20 léguas, marchando de dia e de noite, com pouco descanso, até que achem paragem aonde possam parar. Nas passagens de alguns rios, um dos que guiam a boiada, pondo uma armação de boi na cabeça e nadando, mostra às reses ou vau por onde hão de passar.” (pag.132)

            O trajeto do gado proporcionou o desenvolvimento de uma região, onde os residentes negociavam os animais cansados e fracos com os vaqueiros, e cultivavam pequenas lavouras e ofereciam aos viajantes, facilitaram os caminhos das estradas, fizeram açudes, plantaram cana e criaram a rapadura. Nas proximidades do rio São Francisco descobriram jazidas de sal de ótima qualidade.

            Antonil faz referencia de que haviam cerca de meio milhão de cabeças de gado na Bahia e mais de 800 mil na região de Pernambuco, e que na extensão de todo o sertão haviam inúmeros currais.  Depois da instalação do arcebispo da Bahia, foram criadas freguesias no Sertão e com elas os dízimos. Um imposto meio civil, meio eclesiástico: era recolhido os bezerros dizimados, inicialmente um, depois 3 ou 4, conforme convencionado.

            O gado foi importante para impulsionar a descoberta de ouro nas região de Minas. O gado era utilizado para alimentar os mineiros. Alguma esmeralda fora encontrada após a serra do Espinhaço, e também algum ouro fora encontrado em Porto Seguro, mas a grande riqueza ainda não se revelara. O ouro ainda mal explorado aparecia em pequenas montas principalmente na Capitania de São Vicente[25]. Antonil descreve:

“(...) que de um outeiro alto distante três léguas da vila de São Paulo, a que chamam Jaraguá, se tirou quantidade de ouro que passava de oitavas a libras. Em Parnaíba, também junto da mesma vila no serro Ibituruna, se achou ouro e tirou-se por oitavas. Muito mais e por muitos anos se continuou a tirar em Parnaguá e Curitiba, primeiro por oitavas, depois por libras, que chegaram a alguma arroba posto que com muito trabalho para o ajuntar, sendo o rendimento no catar limitado.” “(...) um mulato de Curitiba encontrou no riacho chamado Tripuí uns granitos cor de aço, que vendeu em Taubaté a Miguel de Sousa por meia pataca a oitava; levados ao Rio reconheceu-se neles ouro finíssimo. Foi este o primeiro descoberto.” (pag. 139, 140, 141)

            Na região de Ouro Preto e Mariana, na parte da bacia do alto do Rio Doce ocorrera as primeiras escavações onde primeira designou-se as Minas Gerais. O autor também destaca o rio das Mortes, próximo a São João e São José Del Rei; o rio das Velhas no caminho da Bahia e Caeté; e mais freqüente no alto do rio Doce e na Cordilheira do Espinhaço. Novas minhas também foram descobertas em Pitangui, Paracatu e Alhures.

            Dom Pedro II foi o grande motivador a busca do ouro em nossas terras, ele enviara cartas principalmente para gente de São Paulo, dizendo que se houvesse ouro nestas terras eles não mais deveriam ficar encobertos. Com a descoberta do ouro, muitos mantimentos como garapas, fumo, comestíveis etc eram enviados para as freguesias das minas, e por não haver outra moeda circulando no local esses eram pagos em ouro, com suas oitavas. Os negros e os índios aproveitavam os dias santos, que os homens não trabalhavam nas minas e retiravam ouro e guardavam para si, esse ouro era gasto por eles em comidas e bebidas, o que dava grande lucro aos comerciantes.

“Sem serem procuradas apareceram as minas de Cuiabá. Pascoal
Moreira Cabral e seus companheiros andavam à cata de índios quando encontraram os primeiros grãos de ouro em 1719, em tamanha abundância que extraía-se com as mãos e paus pontudos; tirava-se ouro da terra como nata de leite, na expressão pitoresca de Eschwege. Os bandeirantes viraram mineiros sem pensar e sem querer. A experiência das desordens das Minas Gerais foi aproveitada, e não houve aqui as terríveis desordens que fizeram tristemente célebre o rio das Mortes.” (pag. 142)

            Na busca ao ouro, muitos homens morreram, alguns e naufrágios, outros foram atacados por feras, a grande maioria por má alimentação e flagelo sofreram com enfermidades que lhes tiraram a vida. Por volta de 1736 a mineração cresceu pelo Cuiabá até o Paraguai, ao longo das águas do Guaporé, e nas aldeias de jesuítas espanhóis estes aventureiros encontravam apoio e eram proibidos de negociar com os portugueses. Relata ainda que os paiaguais e os guaicurus, talvez motivados pelos espanhóis que ocupavam o Paraguai, cercavam e furtavam aqueles que seguiam pela barra de São Lourenço a Cuiabá pela região pantanal.

            Os governadores buscavam formas eficazes em taxar o ouro aqui explorado, pois era este um direito real, tais taxas, ora de quinto, ora em taxa única anual de 25 ou 30 arrobas, até que criou-se as casas de fundição, e estas já lhe subtraia o quinto ainda em pó. Em 1725 as municipalidades propõem pagar 37 arrobas. Para ter controle sobre a exploração mineral, inúmeras medidas foram impostas, por exemplo a taxação sobre a quantidade de escravo no trabalho, cobrança de pedágios nos rios e estradas, até que fora proibido transportar ouro em pó, e realizar trabalhos com ouro, como os ourives por exemplo.

“Desenganada de ouro, a população procurou outros meios de subsistência: a criação de gado, a agricultura de cereais, a plantação de cana, de fumo, de algodão; com o tempo avultou a produção ao ponto de criar-se uma indústria especial de transportes, confiada aos históricos e honrados tropeiros.” (pag. 150)

            Concluindo, neste capitulo Capistrano nos define claramente como foi a ocupação do sertão brasileiro, a economia local, a produção, a riqueza, a característica, e ainda nos da um caminho para entender a corrida do ouro no Brasil, e também os caminhos para o escoamento das riquezas do Brasil para a Europa.


Formação dos Limites
            Inicia este capitulo, o autor a descrever a distribuição das terras fruto das conquistas ou descobrimentos exercido inicialmente por Portugal, no tempo do infante Dom Henrique. Esta distribuição fora resultante da vontade dos papas Nicolau V, Calixto III e Xisto IV. No ato pontifico as terras descobertas, em meados do século XV pertenceriam unicamente a Portugal. Já em 1493, após a viagem de Cristovão Colombo, o papa Alexandre VI atribui a Castela, todas as terras a 100 léguas[26] oeste da ilha de Açores e do Cabo Verde.

            Tal ato de Alexandre leva Dom João II, então rei de Portugal a protestar, pois via os direitos lusitanos subtraídos. Depois de algumas negociações, chegaram ao acordo de Tordesilhas. Este tratado assinado em 7 de junho de 1494.

“(...) manteve o princípio enunciado pelo papa: a divisão do mundo em dois hemisférios, pertencentes um a Portugal, outro à Espanha; modificou, porém, o número de léguas, elevando-as de cem a trezentas e setenta, e o ponto de partida para a contagem, que seria uma ilha, não especificada então nem depois, do arquipélago do Cabo Verde. O arreglo[27] foi meramente formal e teórico: ninguém sabia o que dava ou recebia, e se ganhava ou perderia com ele no ajuste das contas”. (pag.178)

            Capistrano relata que chegada de Padro Alvares Cabral ao Brasil fora precedida pela expedição de Vicente Yañes[28], porém os espanhóis buscavam terras ao norte, por entender que esta terra, a que eles chamavam de terra dos papagaios, segundo o tratado pertenceria a Portugal. Mesmo aparente definido os domínios do Portugal e Espanha, ainda levantou-se uma discussão, agora sobre o posicionamento da linha divisória do mediterrâneo, pois a alteração traria alguns benefícios ao povo de Castela. Deste reclame, em abril de 1529 houve a capitulação de Saragoça, este admitia que as Molucas[29] pertenciam a coroa espanhola e não a Portugal que as reclamava.
           
Portugal e Espanha disputavam cada espaço de terras da concessão papal, Dom João III chegou a cogitar a dedução da Capitania do Pernambuco e Rio da Prata[30]. Na foto ao lado pode-se observar a localização do Rio da Prata logo abaixo do Uruguai.

            Além da reclamação espanhola sobre domínios e demarcação de terras, as observações astronômicas de Martin Afonso deram razão ao direito de Portugual. A unificação do reinado de Castela e Portugal e a atenção concentrou-se na Amazônia. A região sofria constantes invasões por parte de ingleses e flamengos.

            Portugal havia estabelecido ainda duas capitanias em território claramente definido como espanhol.

“(...) a de Cametá, concedida a Feliciano Coelho de Carvalho, limitada a oeste pelo Xingu na margem direita, a do cabo do Norte na margem esquerda do Amazonas, concedida a Bento Maciel Parente, limitada a oeste pelo Peru. Em 1639, Pedro Teixeira, voltando de Quito, tomou posse em nome del-rei de Portugal das terras situadas entre o rio Aguarico, afluente do Napo, e o mar; faltava-lhe autoridade para tanto; mas este ato foi mais tarde e muitas vezes invocado e aceito como título de posse.” (pag.180)

            Já a ocupação territorial e suas delimitações, ao sul das Américas ocorreu mais lentamente por parte de Portugal, acompanhando o litoral do Paraná e Santa Catarina, e, inclusive insurge a preocupação em definir os verdadeiros limites e alcances da linha de Tordesilhas. Os jesuítas espanhóis reergueram as missões no território do Uruguai, gravitando com Buenos Aires, Assunção, seguindo para os Andes e o Pacífico.

            Capistrano descreve ainda a disputa de Portugal e Espanha pelo território da Colônia de Sacramento[31] que havia sido criada pelo Rei de Portugal, em 1680 nas proximidades do Rio da Prata e a 10 léguas e Buenos Aires. A diante, Portugal põem em pratica o povoamento do Rio Grande do Sul, á época, chamado de rio de São Pedro. Em 1737 Jose da Silva Pais[32], desembarcou na região da Lagoa dos Patos[33] e a Mirim[34], onde iniciou o processo de ocupação.

            Finalmente no ano de 1750 com a assinatura do tratado de Madri, encerra-se entre Portugal e Espanha a briga por demarcações, ocupações e territórios. Ambas as nações haviam declarado ter desrespeitado a linha de Tordesilhas, e partir de então cada nação teria domínio sobre as áreas já ocupadas e as referencias seriam os monumentos naturais já conhecidos. Tropas de comissionados e engenheiros se espalharam e seguiam em diversas direções entre as capitanias promovendo as demarcações das terras, agora pacificadas, porém, sofrendo algumas resistências por parte dos nativos. As missões jesuítas tiveram importante papel também neste momento, pois, buscavam o entendimento com os nativos buscando a paz.

            O Rei Carlos III ascende ao trono da Espanha em função da morte do rei Fernando VI, e uma de suas primeiras medidas foi anular o tratado de Madri. A contar de 12 de fevereiro de 1761, volta a prevalecer o tratado de Tordesilhas. Por volta de 1762 por não dar apoio ao pacto de família, dirigido pelos Bourbons contra a Inglaterra, colocava em risco seus domínios territoriais na America do Sul. E as colônias a começar por Sacramento são atacadas.

            Esse tempo foi marcado por conflitos e tratados entre Portugal e Espanha que colocavam sempre em questão algumas regiões do território na America do Sul. Capistrano aponta o natural ódio de nossos vizinhos ao Brasil de hoje, a forma como as demarcações das terras foram realizadas por volta do século XVIII, assim como fora o processo confuso de ocupação promovido pelas monarquias de Portugal e Espanha.

“E em nome destes seres heterônomos ainda hoje nossos vizinhos propagam e herdam o ódio ao Brasil desde os bancos escolares! Felizmente no Brasil já não somos prisioneiros destas paixões inferiores de colonos fossilizados.” (pag. 191)

            Já os conflitos com os franceses as margens do Oiapoque[35] esgotou-se a partir do tratado de paz conhecido por tratado de Utrecht, e em seu artigo 8º torna-se claro e indiscutível que a coroa portuguesa não reclamaria as terras acima do amazonas. Em 1807, com a assinatura do tratado de Fontainebleau[36] colocava em risco o trono de Portugal, e obrigara a família a seguir rumo ao Brasil.

Três séculos depois
            Neste capitulo o autor inicia com a afirmativa que nos anos de 1800, a população aqui no território brasileiro era de milhões de pessoas, o que representava cerca de  2 ou 3 km²/individuo.

“A população ocupava a marinha desde Marajó até o Xuí, e uma e outra margem do Amazonas desde a foz a Tabatinga e ao Javari. Nos tributários desta bacia os povoados, de preferência estabelecidos nos caudais de água preta, paravam a pouca distância da barra, exceto no rio Negro, onde preocupações de limites tinham requintado a expansão natural, no Madeira, Tapajós e Tocantins, ligados a Mato Grosso e Goiás. Desde Piauí à linha singela do litoral correspondiam uma ou mais linhas interiores de povoamento nas beiras dos rios e os chapadões do Parnaíba, do São Francisco,
do Paraná e regiões intermédias. Estas linhas, interrompidas a cada instante, melhor se diriam pontos indicando um traçado a realizar”. (pag. 193)

            A população em si era formada em sua grande maioria pela mestiçagem, esta variava de composição em conformidade com a região ou localidade. Na Amazônia prevalecia o indígena, acompanhado de mamelucos e mulatos. Na zona pastoril, onde predominava a pecuária existiam poucos negros, sendo assimilados com a maior presença de indígenas. Os negros encontravam em maior concentração no litoral e nas regiões de exploração mineral. Ao sul, a presença do branco era infinitamente superior as demais raças. Todos conviviam em contingências forçadas, sendo o africano a que maior numero de representantes puros possuía, e, certamente em conseqüências das ações do trafico dos negreiros.

            E, nestas linhas, Capistrano fala sobre as casas grandes, essas eram literalmente a moradia daqueles mais privilegiados. Nos fala ainda que no sertão brasileiro o solo sempre pareceu infértil, mas em algumas épocas do ano podia-se produzir, algodão, milho, a mandioca, o feijão e até a cana. A carne bovina era pouco ou moderadamente consumida, o consumo desta era mais comum na região de Minas, Goias e Mato Grosso. As cabras e ovelhas foram introduzidas demoradamente e seu consumo era mais comum no sertão pela escassez de nutrientes gerados pela calamidade das secas. O homem do sertão também consumia a garapa, a rapadura, o mel de engenho, a farinhada, etc.

            De forma geral os donos das casas grandes usavam vestimentas simples e adornos religiosos, esses em ocasiões solene vestiam-se de quimão, timão ou chambre.

"(...) Quando um brasileiro põe-se a usar um desses hábitos talares
começa a se considerar personagem importante (gentleman) e com título portanto a muita consideração."(pag 198)

As mulheres usavam camisa e saia. Moças solteiras dormiam juntas um uma camarinha, estas não apareciam aos estranhos. Era comum encontrar os noivos pela primeira vez no dia de seus casamentos. Entre as jóias as mulheres eram comuns usarem colar, e estes poderiam indicar até certo ponto a sua hierarquia.

“Um fenômeno daquelas regiões, ainda hoje existente, eram as feiras de gado ou de outros gêneros. Algumas feiras deram origem a povoados”. (pag. 198)

            A agricultura pareceu bastante rentável com a cultura do algodão, e tardiamente com a plantação de café, isso mais próximo as regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas essa cultura dependia de grande números de escravos e era bastante rentável. As fazendas não demonstravam grandes riquezas, cada fazendeiro rico preparava os escravos para todas as necessidades da sua casa.

(...) comumente acham-se numa casa todos os oficiais e a aviação para eles, como sapateiros, alfaiates, tecelões, serralheiros, ferreiros, pedreiros, oleiros, caçadores, mineiros, agricultores... À frente dos negócios está um feitor, mulato ou negro de confiança, e determina-se a ordem do dia como num convento. O dono faz ao mesmo tempo de regedor, juiz e médico em sua propriedade. Muitas vezes é um eclesiástico ou vem um clérigo da vizinhança celebrar em sua capela particular." (pag. 200)

            As características dos mineiros e dos paulistas, Capistrano acentua, e destaca que os mineiros tinham sempre a espada e sua espingarda como companheiros inseparáveis. Aos paulistas atribui a descobertas de plantas medicinais, antes cultivadas pelos indígenas. E ele segue este capítulo fazendo algumas comparações entre as populações de cada região, tipos de produção, costumes etc.

“A educação reduzia-se a expungir a vivacidade e a espontaneidade dos pupilos. Meninos e meninas andavam nus em casa até a idade de cinco anos; nos cinco anos seguintes usavam apenas camisas. Se porém iam à igreja ou a alguma visita, vestiam com todo o rigor da gente grande, com a diferença apenas das dimensões. Poucos aprendiam a ler. Com a raridade dos livros exercitava-se a leitura em manuscritos, o que explica a perda de tantos documentos preciosos”. (pag 210)

            Descreve também que dentre os costumes no Rio de Janeiro o cuidado com a água e o esgoto cabia aos particulares, as ruas eram estreitas e iluminadas por meio de azeite de peixe, e os cadáveres eram enterrados nas igrejas. A ausência de epidemias se dava pela baixa densidade populacional e a limpeza publica ficava a cargo da chuva e do sol.




Referência:

Livro “Capitulos de Historia Colonial (1500-1800), de João Capistrano de Abreu. Coleção Biblioteca Básica Brasileira

Bernadette de Castelbajac. «Companhia das Índias, grande negócio em muitas versões». História viva. Consultado em 6 de março de 2016.    

Anthony G. Maroussis. JUAN DE FUCA - A Greek Pioneer (PDF).

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Enciclopédia Mirador Internacional. <http://educacao.uol.com.br/biografias/antonil.htm>  visitado em 12/05/2016, as 11h 23min.

Enciclopédia Mirador Internacional.
  acessado em 04 de maio de 2016, as 17h22 min.

IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro : Nova Fronteira; Belo Horizonte : UFMG, 2000. 256p. ISBN 8520910564.

GONTIJO, Rebeca. O velho vaqueano. Capistrano de Abreu (1853-1927): memória, historiografia e escrita de si. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.

BARROS, José D'Assunção. Duas fases de Capistrano de Abreu: em torno de uma produção historiográfica. Projeto História, n°41, dez.2010. São Paulo : Nova Fronteira; PUC-SP, 2011.

Cidade de Sacramento. http://www.coloniadosacramento.com/a-historia-de-colonia-del-sacramento  visitado em 15/05/2016, as 17h 20min

A Origem do Nome do Rio Grande do Sul, FARIAS, B. M., setembro de 2008

Confrades e sócios (1950). Boletim da SBG Sociedade Brasileira de Geografia [S.l.] p. 292.

Jaime Cortesão - História do Brasil nos Velhos Mapas.



[1] Estudo geográfico de uma região.
[2] Dicionário de línguas clássicas antigas; ou um acervo de palavras utilizadas nas linguagens antigas.
[3] Em Gramática, parataxe, em oposição a hipotaxe, significa uma sequência de frases justapostas, sem conjunção coordenativa.
[4] Esta palavra tem sua origem no latim e tem como significado foro mixto.
[5] O número de famílias era contabilizado pelos “fogos” que ardiam na cozinha de suas casas.
[6] Costa Lobo, historiador, membro da Câmara dos Pares, ocupando o espaço que pertencera a seu pai. Em 1864 assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros e pertenceu ao Conselho de D. Manuel II de Portugal, tendo honras de ministro de Estado honorário. Projetou uma trilogia dramática que resumisse a história de Portugal. A sua obra foi marcada por idéias krausistas e também foi um estudioso do sebastianismo.
[7] Que, ou aquele que tem vida trabalhosa; aquele que anda por serras e fragas quebrando pedras, ou abatendo árvores.
[8] Que ou o que não ingere ou ingere muito pouco bebidas alcoólicas; moderado, sóbrio.
[9] Grupo étnico africano que habitam a região da África ao Sul do Deserto do Saara.
[10] Giovanni ou João Antonio Andreoni, mais conhecido por Antonil, ou André João Antonil, seu pseudônimo literário, era um religioso jesuíta, autor do mais importante testemunho sobre a economia colonial brasileira, na época da transição entre o ciclo do açúcar e o da mineração: Cultura e opulência do Brasil.
[11] Que se alimenta de seres humanos. Pratica o canibalismo.
[12] Os navios que praticavam o contrabando dos produtos brasileiros
[13] Infecção provocada por vírus, protozoário etc
[14] Desordem, falta de harmonia, desavenças
[15] A Flandres é a região norte da Bélgica, ao passo que a região sul do país é designada por Valónia. Na Flandres fala-se o neerlandês, embora popularmente esta língua seja conhecida como flamengo e os seus falantes designados como "flamengos". Considera-se que o flamengo e o neerlandês são uma e a mesma língua, embora com algumas variações regionais ao nível da terminologia. A população flamenga é de origem predominantemente neerlandesa e a sua gênese remonta ao período em que esta região fazia ainda parte dos Países Baixos. No entanto, a população da Flandres é também composta por inúmeros descendentes de imigrantes de diferentes continentes, ou pelos próprios imigrantes que buscam hoje nesta região uma vida melhor.
[16] O estreito de Magalhães é uma passagem navegável de aproximadamente 600 km imediatamente ao sul da América do Sul continental. Este estreito é a maior e mais importante passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
[17] A companhia neerlandesa foi criada em 1602 sob a proteção do príncipe Maurício de Nassau para coordenar as atividades das companhias que concorriam no comércio nas Índias Orientais e para agir como um braço do Estado holandês em sua luta contra a Espanha. Em 1799, foi liquidada e seus débitos, posses e responsabilidades foram assumidos pelo governo holandês. Seu monopólio se estendia desde o cabo da Boa Esperança até o Estreito de Magalhães. A influência e a atividade holandesa se expandiram por todo o arquipélago malaio, China, Japão, Índia, Pérsia e pelo cabo da Boa Esperança.
[18] A ilha da Terra Nova encontra-se no noroeste do Oceano Atlântico. É uma das duas regiões que compõem a província canadense da Terra Nova e Labrador. Foi descoberta pelos navegadores portugueses João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem, por volta de 1472. Mais tarde será João Álvares Fagundes, outro marinheiro e explorador português, nessa mesma época, a quem se deve o reconhecimento da sua costa.
[19] Hoje conhecido como o estreito de Juan de Fuca, é a principal saída para o estreito de Geórgia e o Puget Sound, conectando ambos com o Oceano Pacífico. Forma parte da Fronteira Canadá-EUA. Recebeu o nome em 1788 de Juan de Fuca pelo capitão inglês John Meares do navio Felice. Juan de Fuca era um marinheiro grego que alegava haver ido em uma viagem com exploradores espanhóis em 1592 para procurar o lendário estreito de Anián.
[20] A Ilha de Itamaracá é uma ilha no litoral norte do estado de Pernambuco, no Brasil. Constitui-se também em um município, integrante da Região Metropolitana do Recife. A ilha é ligada ao continente pela ponte Presidente Getúlio Vargas. O canal de Santa Cruz separa a ilha do continente. O Forte Orange esta localizado na Ilha.
[21] Pequeno intervalo, espaço ou fenda em tecido, estrutura ou entre células.
[22] Também chamado tratado da Haia de 1641 foi uma trégua de dez anos firmada entre o Reino de Portugal e a República Neerlandesa. Trata-se também de um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva entre ambas as partes.
[23] Este livro foi entregue a Gomes Freire, mas parece ter sido extraviado e encontrava-se desaparecido.
[24] Feira de gado realizada na Bahia setecentista, ou seja no período do século XVIII. La reunia muitos escravos africanos.
[25] Originalmente a capitania consistia em duas seções: a seção sul (a São Vicente propriamente dita que se destacou efemeramente), de Bertioga (SP) a Cananéia/Ilha do Mel (PR) e a seção ao norte, de Macaé (RJ) a Caraguatatuba (SP), interrompidas pela Capitania de Santo Amaro.
[26] Légua era a denominação de várias unidades de medidas de itinerários (de comprimentos longos) utilizadas em Portugal, Brasil e em outros países até à introdução do sistema métrico. A légua imperial é a maior unidade do sistema imperial de medidas. Esta é a única légua que tem uma definição e equivalência exatas, pois equivale cabalmente a 4,828032quilômetros. Em Portugal, durante o período de transição das antigas unidades de medida para o sistema métrico, por Decreto de 2 de Maio de 1855, foi estabelecida a "légua métrica", equivalente a 5 000 metros.
[27] Substantivo espanhol que significa “a liquidação”, arranjo, arrumação. Da mesma forma foi introduzida na língua portuguesa.
[28] Vicente Yáñez Pinzón (1462  1514) foi um navegador e explorador espanhol, primo do também navegador Diego de Lepe. Foi co-descobridor da América em 1492 como capitão da caravela La Niña, na primeira expedição de Cristóvão Colombo.
[29] Ilhas Molucas são um arquipélago da Insulíndia que faz parte daIndonésia, localizado entre Celebes (Sulawesi) e a Nova Guiné. É limitado a sul pelo Mar de Arafura, a oeste pelos mares de Banda e das Molucas e a norte pelo Mar das Filipinas e a noroeste pelo Mar de Celebes. Nos séculos XVI e XVII, as ilhas correspondentes à atual província das Molucas do Norte eram chamadas "Ilhas das Especiarias". A região era a única fornecedora mundial de noz-moscada e cravo-da-índia, especiarias extremamente valorizadas nos mercados europeus, vendidas por mercadores árabes à República de Veneza a preços altos, com os negociantes a nunca divulgarem a localização exata da origem, pelo que nenhum europeu conseguia deduzir a sua origem. Em 1511-1512, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar às Molucas, em procura das afamadas especiarias. Os Holandeses, os espanhóis e reinos locais, como Ternate e Tidore, disputaram o controle do lucrativo comércio de especiarias. As árvores de noz-moscada e cravo-da-Índia foram posteriormente transplantadas no mundo inteiro, o que reduziu a importância internacional da região.
[30] O nome refere-se à lendária Sierra de Plata (Serra de Prata), que foi procurada por Aleixo Garcia, Sebastião Caboto e outros que subiram os rios da Prata, Paraná, Paraguai e Uruguai e que realizaram expedições terrestres até o Chaco e Chiquitos. É possível que a tal Sierra de Plata tenha sido uma evocação remota ao Cerro Rico de Potosí que os indígenas transmitiam boca a boca, ou que tal informação seja uma referência ao império dos Incas no Peru. Em 1525, Sebastião Caboto encontrou alguns índios que acompanhavam Aleixo Garcia: eles carregavam prata que obtiveram em sua expedição. Caboto, então, inferiu que, naquela zona, havia muita prata; desde então, organizaram-se expedições ao "Rio da Prata". O rio, ou estuário, acabou por denominar a atual Argentina, a partir do nome latino da prata: argentum.
[31] Esta cidade foi fundada em 1680 pelas tropas portuguesas lideradas por Manuel Lobo, que se assentaram sobre as costas do Río de la Plata. Neste momento os reinados de Portugal e da Espanha se encontravam em grandes conflitos bélicos, gerados pela intenção de ambos os países de estender seu poderio sem respeitar acordos bilaterais. Esta é a cidade mais antiga do Uruguai e é um dos Patrimônios da Humanidade (Unesco).
[32] José da Silva Pais (1679 1760) foi um militar, engenheiro e administrador colonial português. Notabilizou-se por ser um grande estrategista que não apenas idealizou, mas também participou diretamente da administração pública que estruturou a concepção do Brasil Meridional lusitano. Mandou construir fortificações e participou da construção de diretrizes geopolíticas para garantir a presença portuguesa no Prata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
[33] O nome pode estar ligado a duas possíveis origens, a primeira pelo fato de nas proximidades da lagoa habitarem a época tribos indígenas conhecidos de patos. A outra possível origem seria alguns patos que fugiram das naus portugueses e por ali encontraram ambiente ideal para reprodução.
[34] É uma lagoa localizada na fronteira entre o estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, e o Uruguai. É a segunda maior lagoa do Brasil (menor apenas que a Lagoa dos Patos), e a primeira do Uruguai.
[35] O rio Oiapoque é um curso d'água que delimita a fronteira entre o estado brasileiro do Amapá e o departamento de ultramar francês da Guiana. O Oiapoque nasce na serra Tumucumaque e em seu trajeto é também chamado de Oyapock, Iapoco, Iapoc. Deságua no oceano Atlântico após percorrer cerca de 350 km. Entre os séculos XVI e XVIII, foi chamado ainda de “rio de Vicente Pinzón”, em homenagem ao explorador espanhol Vicente Yañez Pinzón, que teria descoberto a sua foz em 1500.
[36] O Tratado de Fontainebleau foi um diploma assinado em secreto por França e Espanha, em 27 de outubro de 1807. Em 1806, após ter fracassado na tentativa de invasão à Inglaterra, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental. Portugal, tradicional aliado da Inglaterra, negou-se a acatá-lo. Após intensa pressão diplomática, sem que obtivesse um claro rompimento das relações luso-britânicas, Napoleão decidiu invadir o território de Portugal. 

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