Por Evandro Brasil
Correios: A crise dos Correios não aconteceu por acaso nem pode ser explicada por um único fator. Ela é resultado da combinação entre mudanças no mercado, avanço das grandes plataformas privadas de comércio eletrônico e decisões políticas tomadas, principalmente, sob a influência da extrema direita nos últimos anos. Esses três elementos se conectam e ajudam a entender o enfraquecimento da empresa pública.
1. Shopee e Mercado Livre: concorrência desigual
Plataformas como Shopee e Mercado Livre cresceram rapidamente no Brasil impulsionadas pelo comércio digital, pela logística própria e por parcerias com transportadoras privadas. Diferente dos Correios, essas empresas:
- Não têm obrigação de atender todo o território nacional;
- Focam apenas nas rotas lucrativas;
- Pagam menos tributos proporcionalmente;
- Utilizam modelos de trabalho mais precarizados.
Enquanto isso, os Correios continuam cumprindo uma função social, entregando cartas, encomendas e serviços em regiões onde nenhuma empresa privada quer operar, como áreas rurais, periferias e cidades pequenas. Isso cria uma concorrência injusta, pois o lucro fica com o setor privado e o custo social permanece com o Estado.
2. O papel da extrema direita e o projeto de enfraquecimento do Estado
Durante os governos alinhados à extrema direita, especialmente nas gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro, os Correios passaram a ser tratados não como um patrimônio público estratégico, mas como um “problema” a ser resolvido pelo mercado. O discurso foi claro:
“Empresa pública não funciona, tem que privatizar.”
Na prática, isso significou:
- Falta de investimentos em tecnologia e logística;
- Tentativas constantes de privatização;
- Enfraquecimento da imagem institucional da empresa;
- Desvalorização dos trabalhadores e da gestão técnica.
Criou-se um ambiente político de sabotagem, no qual a empresa era empurrada para o prejuízo para justificar sua venda futura.
3. O abandono da função estratégica dos Correios
Os Correios não são apenas uma empresa de entregas. Eles cumprem funções essenciais:
✓ Distribuição de livros didáticos;
✓ Entrega de provas do ENEM e concursos;
✓ Apoio a políticas públicas;
✓ Inclusão logística de regiões esquecidas pelo mercado.
Quando governos deixam de enxergar isso e passam a tratar a empresa apenas sob a lógica do lucro imediato, o resultado é previsível: crise operacional, financeira e institucional.
4. Crise fabricada
É importante dizer com clareza: a crise dos Correios não é prova de incompetência pública, mas consequência de:
- Concorrência predatória de grandes plataformas;
- Decisões políticas ideológicas;
- Falta de um projeto nacional de logística e soberania.
Enquanto Shopee e Mercado Livre lucram bilhões no Brasil, grande parte desse dinheiro não fica no país, não fortalece políticas públicas e não gera desenvolvimento equilibrado.
"A crise dos Correios é o retrato de um projeto que coloca o mercado acima do interesse público. Shopee e Mercado Livre representam o novo capitalismo digital; a extrema direita ofereceu o ambiente político ideal para desmontar o Estado; e os Correios ficaram no meio do fogo cruzado, carregando sozinhos a responsabilidade social que o setor privado se recusa a assumir."
Recuperar os Correios não é apenas uma decisão econômica — é uma escolha política sobre que país queremos construir.
..........
Anúncio, Divulgação


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Amigo(a) visitante, agora contribua deixando aqui o seu comentário.