Professor
Evandro Brasil, presidente do Instituto Evandro Brasil, pesquisador e
profissional em Biomedicina
A
blenorragia, também denominada gonorreia, pingadeira ou gota matutina, é uma
doença causada pela Neisseria gonorrhoeae, transmitida pelo contato sexual, com
a penetração do gonococo no epitélio das células do aparelho urogenital, e
pelos contatos anogenital e orogenital.
Em
1837, Phillipe Ricord diferenciou sífilis de gonorreia a partir do princípio
experimental-patológico, que se apoiava nas observações clínicas e nas
experiências com inoculação do vírus sifilítico em seres humanos. Albert
Neisser, bacteriólogo alemão, descobriu o agente causal específico da
gonorreia, a bactéria Neisseria gonorrhoeae, em 1879.
A
bactéria Treponema pallidum, agente causal da sífilis, foi identificado por
Fritz Richard Schaudinn, zoólogo alemão, em 1905, selando definitivamente a
separação entre as duas doenças venéreas então conhecidas. A promiscuidade e a
falta de proteção específica favoreciam a disseminação das doenças sexualmente
transmissíveis (SILVA; SANNA. 2016). O primeiro preservativo masculino
fabricado no Brasil data de 1936 e a primeira campanha de saúde pública para
seu uso iniciou-se apenas em 1973, com foco educativo, abordando a
camisinha como o método mais eficaz para se prevenir doenças sexualmente
transmissíveis e ainda evitar uma gravidez não planejada. Uma das primeiras
iniciativas da educação sanitária no Brasil, nas primeiras décadas do século
XX, partiu do pressuposto de que a ignorância era a causa principal das
doenças; portanto, era necessário conscientizar a população sobre a importância
dos hábitos higiênicos.
A doença é adquirida, principalmente,
por contato sexual com outro individuo contaminado, mas também pode ser
transmitido por via placentária, contato com uma lesão ativa (boca, pele e
olho) transfusão sanguínea e acidentes laboratoriais. (NAKAYAMA et al.,2011). É a segunda
infecção bacteriana sexualmente transmissível mais prevalente globalmente,
ficando atrás apenas da Clamídia. A doença está associada com alta morbidade e
conseqüências socioeconômicas e continua a ser um problema de saúde pública em
todo o mundo (NAKAYAMA et al.,2011). Por ser na maioria das vezes uma doença
silenciosa, 70% a 80% das mulheres infectadas são assintomática (OMS, 2011), torna-se
mais difícil o seu diagnóstico, consequentemente aumenta o risco de
disseminação devido à alta prevalência de infecção em mulheres jovens e
sexualmente ativas, podendo infectar o colo do útero. Os bebês podem ser infectados
durante o parto se suas mães estiverem infectadas.
Se
a doença não for tratada, o agente etiológico progride sua multiplicação
podendo se instalar e comprometer o funcionamento de tecidos e órgãos. O local
infectado de maior prevalência pela N. gonorrhoeae é a uretra, causando
ardor e secreção purulenta. Esta doença pode ser semelhante com muitas outras,
portanto, o diagnóstico deve primeiro passar pela suspeita clínica através de
uma boa anamnese com enfoque principal no sexo desprotegido e nos sintomas de
lesões genitais e manifestações na pele. E para diferenciar de outras infecções
sexualmente transmissíveis (IST), como AIDS, sífilis e clamídia, são
necessárias obter teste especifica para esta doença (MURRAY et al., 2000).
O
tratamento recomendado para essas infecções é um medicamento de terceira
geração de cefalosporinas ou adição de fluoroquinolona ao antibiótico (ex.
ertitromicina) contra co-infecções possíveis de Chlamydia trachomatis.
Parceiros sexuais devem ser avaliados e tratados. Nos EUA, os agentes
antimicrobianos recomendados são: cefitriaxona; cefixima; ou, oflaxacina
(MURRAY et al., 2000). Os fármacos de cefalosporinas não estão mais obtendo os
efeitos esperados em alguns países do Pacifico Ocidental, em especial o Japão.
A N. gonorrhoeae já apresentou resistência a estes antibióticos de terceira
geração e atualmente se teme uma pandemia de gonorreia intratável (TAPSALL et
al., 2009). Não há vacina efetiva para proteção específica contra a gonorreia.
Vacinas são pouco eficazes, devido a grande potência que esta bactéria possui
em sofrer mutações que interfiram na resistência a medicamentos. A evolução da resistência
aos antimicrobianos da N. gonorrhoeae tem ultimamente afetado seu
controle (TAVARES et. al., 2012).
Nas
mulheres, a gonorreia também pode infectar o colo do útero. A gonorreia é mais
comumente disseminada durante o sexo. Mas bebês podem ser infectados durante o
parto se suas mães estiverem infectadas. Nos bebês, a gonorreia afeta mais
comumente os olhos. A gonorreia é uma infecção comum que, em muitos casos, não
causa sintomas. Abster-se de sexo, usar preservativo se tiver relações sexuais
e estar em um relacionamento mutuamente monogâmico são as melhores maneiras de
se prevenir infecções sexualmente transmissíveis.
Sinais e
sintomas de infecção por gonorreia em homens incluem: dor ao urinar, corrimento
semelhante a um pus da ponta do pênis e dor ou inchaço em um dos testículo.
Sinais e
sintomas de infecção por gonorreia em mulheres incluem: corrimento vaginal
aumentado, dor ao urinar, sangramento vaginal entre os ciclos menstruais, como
após o coito vaginal, relação sexual dolorosa e dor abdominal ou pélvica.
A
gonorreia também pode afetar essas partes do corpo:
Reto. Os sinais e
sintomas incluem coceira anal, secreção semelhante a pus no reto, manchas de
sangue vermelho-vivo no vaso sanitário e tensão muscular durante os movimentos
intestinais.
Olhos. A gonorreia que
afeta os olhos pode causar dor ocular, sensibilidade à luz e secreção
semelhante a pus de um ou dos dois olhos.
Garganta. Sinais e
sintomas de uma infecção na garganta podem incluir dor de garganta e inchaço
dos gânglios linfáticos no pescoço.
Articulações. Se uma ou mais
articulações forem infectadas por bactérias (artrite séptica), as articulações
afetadas podem estar quentes, vermelhas, inchadas e extremamente doloridas,
especialmente quando você move uma articulação afetada.
A
gonorreia não tratada pode levar a complicações significativas, como:
Infertilidade em mulheres. Gonorreia não
tratada pode se espalhar para o útero e trompas de falópio, causando doença inflamatória pélvica (DIP), o que pode resultar em
cicatrizes das trompas, maior risco de complicações na gravidez e infertilidade. DIP é uma infecção grave que
requer tratamento imediato.
Infertilidade nos homens. Os homens com
gonorreia não tratada podem apresentar epididimite — inflamação de um pequeno
tubo espiral na parte traseira dos testículos onde os ductos espermáticos estão
localizados (epidídimo). A epididimite é tratável, mas se não for tratada,
pode levar à infertilidade.
Infecção
que se espalha para as articulações e outras áreas do seu corpo. A bactéria que
causa a gonorreia pode se espalhar pela corrente sanguínea e infectar outras
partes do corpo, incluindo as articulações. Febre, erupção cutânea,
feridas na pele, dor nas articulações, inchaço e rigidez são resultados
possíveis.
Maior
risco de HIV / AIDS. Ter
gonorreia torna você mais suscetível à infecção pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV), o vírus que leva à AIDS. As pessoas que têm gonorreia e HIV
são capazes de transmitir as duas doenças mais prontamente aos seus parceiros.
Complicações
em bebês. Os
bebês que contraem gonorreia de suas mães durante o parto podem desenvolver
cegueira, feridas no couro cabeludo e infecções.
Conclusão
Pudemos observar que essa
infecção vem se alastrando em todos os continentes do mundo, e que a bactéria Neisseria
gonorrhoeae já
apresenta resistência aos antibióticos até então recomendado para o tratamento
da enfermidade. Se faz necessário uma ampla campanha institucional no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS) com medidas preventivas com foco na redução dos
riscos de gonorreia: Uso de preservativo - Abster-se do sexo é o
caminho mais seguro para prevenir a gonorreia. Mas ao faze-lo, é
recomendado o uso do preservativo durante qualquer tipo de contato sexual,
incluindo sexo anal, sexo oral ou sexo vaginal. Teste para infecções
sexualmente transmissíveis. Deve-se orientar a população sexualmente
ativa a fazer o teste para infecções sexualmente transmissíveis, incluindo
gonorreia. Não fazer sexo com parceiro(a) que tenha algum sintoma
incomum. Havendo sinais ou sintomas de uma infecção
sexualmente transmissível, como ardor durante a micção ou uma erupção cutânea
ou uma ferida, deve-se orientar a pessoa a recusar-se a relação sexual. Rastreio
regular de gonorreia. Incentivar o rastreio anual para todas as
mulheres sexualmente ativas com menos de 25 anos e para as mulheres mais velhas
com risco aumentado de infecção, tais como as que têm um novo parceiro sexual,
mais de um parceiro sexual, um parceiro sexual com parceiros concomitantes ou
um parceiro sexual que tenha uma infecção sexualmente transmissível.
Referências
Bibliográficas
SILVA, M.R.G; SANNA,
M.C. Perfil dos pacientes diagnosticados
com doenças sexualmente transmissíveis assistidos na Santa Casa de Guaxupé – MG
no período de 1923 a 1932. REME – Ver Min Enferm. 2016; 20 e 990; DOI:
10.5935/1415-2761.20160060.
MEIRA, L.; GAGLIANI,
L.H.; A patogênese da gonorréia e sua
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Gonorréia. Pode ser visto em: <https://fertilidade.org/content/gonorreia>,
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Portal Dráuzio. Pode ser visto em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/gonorreia-blenorragia/>,
visitado em 17/06/2019 às 0h26min.
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Portal Giro. Pode ser visto em: <https://portalgiro.com/superbacteria-da-gonorreia-pode-tornar-se-intratavel-2/>,
visitado em 17/06/2019 às 0h29min.
Citação: PINTO, M. E. T; Infecção Sexualmente Transmissível: Gonorréia. Correio Eletrônico: evandrobrasil-rj@hotmail.com. Instituto Evandro Brasil (2019), Rio de Janeiro.
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