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sexta-feira, 21 de junho de 2019

Infecção Sexualmente Transmissível: Gonorréia

Professor Evandro Brasil, presidente do Instituto Evandro Brasil, pesquisador e profissional em Biomedicina

A blenorragia, também denominada gonorreia, pingadeira ou gota matutina, é uma doença causada pela Neisseria gonorrhoeae, transmitida pelo contato sexual, com a penetração do gonococo no epitélio das células do aparelho urogenital, e pelos contatos anogenital e orogenital.



Em 1837, Phillipe Ricord diferenciou sífilis de gonorreia a partir do princípio experimental-patológico, que se apoiava nas observações clínicas e nas experiências com inoculação do vírus sifilítico em seres humanos. Albert Neisser, bacteriólogo alemão, descobriu o agente causal específico da gonorreia, a bactéria Neisseria gonorrhoeae, em 1879.

A bactéria Treponema pallidum, agente causal da sífilis, foi identificado por Fritz Richard Schaudinn, zoólogo alemão, em 1905, selando definitivamente a separação entre as duas doenças venéreas então conhecidas. A promiscuidade e a falta de proteção específica favoreciam a disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (SILVA; SANNA. 2016). O primeiro preservativo masculino fabricado no Brasil data de 1936 e a primeira campanha de saúde pública para seu uso iniciou-se apenas em 1973, com foco educativo, abordando a camisinha como o método mais eficaz para se prevenir doenças sexualmente transmissíveis e ainda evitar uma gravidez não planejada. Uma das primeiras iniciativas da educação sanitária no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, partiu do pressuposto de que a ignorância era a causa principal das doenças; portanto, era necessário conscientizar a população sobre a importância dos hábitos higiênicos.

A doença é adquirida, principalmente, por contato sexual com outro individuo contaminado, mas também pode ser transmitido por via placentária, contato com uma lesão ativa (boca, pele e olho) transfusão sanguínea e acidentes laboratoriais. (NAKAYAMA et al.,2011). É a segunda infecção bacteriana sexualmente transmissível mais prevalente globalmente, ficando atrás apenas da Clamídia. A doença está associada com alta morbidade e conseqüências socioeconômicas e continua a ser um problema de saúde pública em todo o mundo (NAKAYAMA et al.,2011). Por ser na maioria das vezes uma doença silenciosa, 70% a 80% das mulheres infectadas são assintomática (OMS, 2011), torna-se mais difícil o seu diagnóstico, consequentemente aumenta o risco de disseminação devido à alta prevalência de infecção em mulheres jovens e sexualmente ativas, podendo infectar o colo do útero. Os bebês podem ser infectados durante o parto se suas mães estiverem infectadas.



Se a doença não for tratada, o agente etiológico progride sua multiplicação podendo se instalar e comprometer o funcionamento de tecidos e órgãos. O local infectado de maior prevalência pela N. gonorrhoeae é a uretra, causando ardor e secreção purulenta. Esta doença pode ser semelhante com muitas outras, portanto, o diagnóstico deve primeiro passar pela suspeita clínica através de uma boa anamnese com enfoque principal no sexo desprotegido e nos sintomas de lesões genitais e manifestações na pele. E para diferenciar de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como AIDS, sífilis e clamídia, são necessárias obter teste especifica para esta doença (MURRAY et al., 2000).

O tratamento recomendado para essas infecções é um medicamento de terceira geração de cefalosporinas ou adição de fluoroquinolona ao antibiótico (ex. ertitromicina) contra co-infecções possíveis de Chlamydia trachomatis. Parceiros sexuais devem ser avaliados e tratados. Nos EUA, os agentes antimicrobianos recomendados são: cefitriaxona; cefixima; ou, oflaxacina (MURRAY et al., 2000). Os fármacos de cefalosporinas não estão mais obtendo os efeitos esperados em alguns países do Pacifico Ocidental, em especial o Japão. A N. gonorrhoeae já apresentou resistência a estes antibióticos de terceira geração e atualmente se teme uma pandemia de gonorreia intratável (TAPSALL et al., 2009). Não há vacina efetiva para proteção específica contra a gonorreia. Vacinas são pouco eficazes, devido a grande potência que esta bactéria possui em sofrer mutações que interfiram na resistência a medicamentos. A evolução da resistência aos antimicrobianos da N. gonorrhoeae tem ultimamente afetado seu controle (TAVARES et. al., 2012).



Nas mulheres, a gonorreia também pode infectar o colo do útero. A gonorreia é mais comumente disseminada durante o sexo. Mas bebês podem ser infectados durante o parto se suas mães estiverem infectadas. Nos bebês, a gonorreia afeta mais comumente os olhos. A gonorreia é uma infecção comum que, em muitos casos, não causa sintomas. Abster-se de sexo, usar preservativo se tiver relações sexuais e estar em um relacionamento mutuamente monogâmico são as melhores maneiras de se prevenir infecções sexualmente transmissíveis.

Sinais e sintomas de infecção por gonorreia em homens incluem: dor ao urinar, corrimento semelhante a um pus da ponta do pênis e dor ou inchaço em um dos testículo.

Sinais e sintomas de infecção por gonorreia em mulheres incluem: corrimento vaginal aumentado, dor ao urinar, sangramento vaginal entre os ciclos menstruais, como após o coito vaginal, relação sexual dolorosa e dor abdominal ou pélvica.

A gonorreia também pode afetar essas partes do corpo:

Reto.   Os sinais e sintomas incluem coceira anal, secreção semelhante a pus no reto, manchas de sangue vermelho-vivo no vaso sanitário e tensão muscular durante os movimentos intestinais.

Olhos.   A gonorreia que afeta os olhos pode causar dor ocular, sensibilidade à luz e secreção semelhante a pus de um ou dos dois olhos.

Garganta.   Sinais e sintomas de uma infecção na garganta podem incluir dor de garganta e inchaço dos gânglios linfáticos no pescoço.

Articulações.   Se uma ou mais articulações forem infectadas por bactérias (artrite séptica), as articulações afetadas podem estar quentes, vermelhas, inchadas e extremamente doloridas, especialmente quando você move uma articulação afetada.

A gonorreia não tratada pode levar a complicações significativas, como:

Infertilidade em mulheres.   Gonorreia não tratada pode se espalhar para o útero e trompas de falópio, causando doença inflamatória pélvica (DIP), o que pode resultar em cicatrizes das trompas, maior risco de complicações na gravidez e infertilidadeDIP é uma infecção grave que requer tratamento imediato.

Infertilidade nos homens.   Os homens com gonorreia não tratada podem apresentar epididimite — inflamação de um pequeno tubo espiral na parte traseira dos testículos onde os ductos espermáticos estão localizados (epidídimo). A epididimite é tratável, mas se não for tratada, pode levar à infertilidade.

Infecção que se espalha para as articulações e outras áreas do seu corpo.   A bactéria que causa a gonorreia pode se espalhar pela corrente sanguínea e infectar outras partes do corpo, incluindo as articulações. Febre, erupção cutânea, feridas na pele, dor nas articulações, inchaço e rigidez são resultados possíveis.

Maior risco de HIV / AIDS.   Ter gonorreia torna você mais suscetível à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), o vírus que leva à AIDS. As pessoas que têm gonorreia e HIV são capazes de transmitir as duas doenças mais prontamente aos seus parceiros.

Complicações em bebês.   Os bebês que contraem gonorreia de suas mães durante o parto podem desenvolver cegueira, feridas no couro cabeludo e infecções.


Conclusão

Pudemos observar que essa infecção vem se alastrando em todos os continentes do mundo, e que a bactéria Neisseria gonorrhoeae já apresenta resistência aos antibióticos até então recomendado para o tratamento da enfermidade. Se faz necessário uma ampla campanha institucional no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) com medidas preventivas com foco na redução dos riscos de gonorreia: Uso de preservativo - Abster-se do sexo é o caminho mais seguro para prevenir a gonorreia. Mas ao faze-lo, é recomendado o uso do preservativo durante qualquer tipo de contato sexual, incluindo sexo anal, sexo oral ou sexo vaginal. Teste para infecções sexualmente transmissíveis. Deve-se orientar a população sexualmente ativa a fazer o teste para infecções sexualmente transmissíveis, incluindo gonorreia. Não fazer sexo com parceiro(a) que tenha algum sintoma incomum.   Havendo sinais ou sintomas de uma infecção sexualmente transmissível, como ardor durante a micção ou uma erupção cutânea ou uma ferida, deve-se orientar a pessoa a recusar-se a relação sexual. Rastreio regular de gonorreia. Incentivar o rastreio anual para todas as mulheres sexualmente ativas com menos de 25 anos e para as mulheres mais velhas com risco aumentado de infecção, tais como as que têm um novo parceiro sexual, mais de um parceiro sexual, um parceiro sexual com parceiros concomitantes ou um parceiro sexual que tenha uma infecção sexualmente transmissível.


Referências Bibliográficas

SILVA, M.R.G; SANNA, M.C. Perfil dos pacientes diagnosticados com doenças sexualmente transmissíveis assistidos na Santa Casa de Guaxupé – MG no período de 1923 a 1932. REME – Ver Min Enferm. 2016; 20 e 990; DOI: 10.5935/1415-2761.20160060.

MEIRA, L.; GAGLIANI, L.H.; A patogênese da gonorréia e sua disseminação pelo mundo. II Jornada de Iniciação cientifica da UNILUS, Nov. 2014. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 12, n. 26, jan/mar, 2015, ISSN 2318-2083 (eletrônico), p. 56.

Portal Fertilidade. Doença Sexualmente Transmissivel: Gonorréia. Pode ser visto em: <https://fertilidade.org/content/gonorreia>, visitado em 16/06/2019, às 23h28min.

Imagem 01. Portal Tua Saúde. Pode ser visto em: <https://www.tuasaude.com/sintomas-da-gonorreia/>, visitado em 17/06/2019 às 0h14 min.

Imagem 02. Portal Dráuzio. Pode ser visto em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/gonorreia-blenorragia/>, visitado em 17/06/2019 às 0h26min.

Imagem 03. Portal Giro. Pode ser visto em: <https://portalgiro.com/superbacteria-da-gonorreia-pode-tornar-se-intratavel-2/>, visitado em 17/06/2019 às 0h29min.


Citação: PINTO, M. E. T; Infecção Sexualmente Transmissível: Gonorréia. Correio Eletrônico: evandrobrasil-rj@hotmail.com. Instituto Evandro Brasil (2019), Rio de Janeiro.

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