terça-feira, 15 de abril de 2025

A Imoralidade na Política Brasileira: De Casos Isolados à Dominação da Maioria


Por Evandro Brasil 

Política: Durante muito tempo, a política brasileira foi marcada por figuras públicas que, embora controversas, ainda respeitavam certas normas éticas e morais. Existiam políticos corruptos, é verdade, mas pareciam exceções dentro de um sistema que ainda mantinha certa dignidade institucional. Infelizmente, esse cenário mudou radicalmente. Hoje, a imoralidade não apenas chegou à política com força; ela se institucionalizou. O que antes era exceção, tornou-se regra. O que antes causava escândalo, hoje mal desperta surpresa. A imoralidade deixou de ser um erro pontual para se tornar um modus operandi de muitos que ocupam cargos públicos.

A constatação de que os imorais hoje são maioria no cenário político nacional não é apenas uma percepção subjetiva ou pessimista. Trata-se de uma conclusão respaldada por fatos, escândalos e manchetes que se repetem ano após ano, governo após governo, partido após partido. Os jornais não nos deixam esquecer. Quase toda semana, uma nova denúncia, uma nova operação policial, uma nova delação premiada expõe o submundo sujo da política.

Um dos maiores exemplos da institucionalização da imoralidade foi o escândalo do Mensalão, revelado em 2005. À época, tratava-se de um esquema de compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional, arquitetado por membros do governo para garantir a aprovação de projetos de interesse do Executivo. Embora muitos tenham sido condenados, o escândalo não foi suficiente para erradicar práticas semelhantes. Na verdade, foi apenas a ponta do iceberg.

Poucos anos depois, veio à tona a Operação Lava Jato, considerada a maior investigação de corrupção da história do Brasil. A operação revelou um esquema bilionário de desvio de dinheiro da Petrobras, envolvendo empreiteiras, diretores da estatal, políticos e partidos inteiros. O caso teve repercussão internacional e levou à prisão nomes como Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, e até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja condenação e posterior soltura geraram intensos debates políticos e jurídicos.

Mas a imoralidade não se limita à corrupção financeira. Ela se manifesta também na indiferença diante da dor do povo, no uso do poder para interesses pessoais, na mentira deliberada, na troca de favores escusos, na compra de votos com cargos e emendas parlamentares. Durante a pandemia da COVID-19, por exemplo, vimos casos de políticos que desviaram recursos destinados à compra de respiradores, vacinas e insumos hospitalares. O caso do consórcio do Nordeste, onde milhões foram pagos por respiradores que nunca chegaram, é emblemático. O escândalo, que deveria causar indignação nacional, teve pouca consequência prática até hoje.

Outro exemplo mais recente foi o chamado Orçamento Secreto, revelado pela imprensa em 2021. Trata-se de uma prática em que parlamentares indicavam emendas bilionárias ao orçamento federal sem transparência, em troca de apoio político ao governo. O mecanismo foi criticado por diversas entidades por violar os princípios da moralidade e da publicidade na administração pública. Em vez de destinar recursos de forma técnica e justa, o orçamento foi usado como moeda de troca para garantir apoio parlamentar. Não é à toa que tantos deputados e senadores preferem o silêncio à oposição — estão amarrados por verbas e cargos.

Nos estados e municípios, a situação não é diferente. No Rio de Janeiro, por exemplo, cinco governadores eleitos desde os anos 1990 foram investigados ou presos por corrupção, incluindo Anthony Garotinho, Rosinha Matheus, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel. Cabral, em especial, chegou a acumular mais de 400 anos de condenação por diversos crimes cometidos durante sua gestão. Isso escancara a promiscuidade entre o poder público e os interesses privados.

A imoralidade também se manifesta nas pequenas ações: na nomeação de parentes para cargos comissionados (nepotismo), no uso da máquina pública para fins eleitorais, no abuso de diárias e verbas indenizatórias, na criação de cargos para aliados políticos. Casos como o do deputado que usou dinheiro público para pagar sessões de coach motivacional ou o vereador que fraudou a frequência no plenário são apenas alguns dos incontáveis exemplos de como a imoralidade virou rotina.

Não se trata mais de uma corrupção silenciosa, disfarçada ou sutil. Os novos imorais são ousados. Sabem que a impunidade é regra, que os processos se arrastam por décadas e que a justiça é seletiva. Sabem que a população está cansada, desacreditada e, muitas vezes, cooptada por narrativas políticas que transformam corruptos em mártires. Assim, não é raro vermos candidatos investigados, processados ou até condenados sendo eleitos ou reeleitos com votos expressivos. Em vez de vergonha, ostentam poder. Em vez de se esconder, dão entrevistas, lançam livros, fazem podcasts.

A chegada da imoralidade à política com força total também pode ser explicada pela ausência de uma cultura sólida de cidadania. A população, muitas vezes, não tem acesso à informação de qualidade, não entende os mecanismos do Estado e é vítima de campanhas políticas baseadas em fake news, promessas vazias e marketing emocional. A educação política no Brasil é fraca — e isso interessa aos imorais. Quanto menos o povo entender de política, mais fácil será manipulá-lo.

O sistema eleitoral, por sua vez, também contribui. Com campanhas caríssimas e financiamento, irregular, de empresas que esperam retorno em contratos públicos, os políticos se tornam devedores de interesses privados antes mesmo de assumirem o cargo. A política vira negócio, e o povo é o último a ser atendido. Além disso, a lentidão do Judiciário e o excesso de recursos legais permitem que criminosos de colarinho branco escapem das punições que o cidadão comum certamente receberia.

Diante de tudo isso, a afirmação de que a maioria dos políticos hoje é imoral pode parecer dura, mas é tristemente realista. A política brasileira, em muitos aspectos, foi sequestrada por um grupo que prioriza o poder, o dinheiro e os interesses próprios. São poucos os políticos honestos que conseguem se manter firmes em meio a esse mar de lama. Muitos desistem, outros se corrompem. A pressão é grande, o sistema é tóxico, e a impunidade é tentadora.

No entanto, nem tudo está perdido. A mudança é possível, mas exige esforço coletivo. É necessário que a sociedade se mobilize, que vote com consciência, que cobre, fiscalize e denuncie. A imoralidade na política só será vencida quando os honestos forem maioria — e isso começa na urna, nas escolas, nas redes sociais, nas ruas.

Enquanto isso não acontecer, os imorais continuarão sendo eleitos, protegidos por um sistema que foi feito por eles e para eles. E a política continuará sendo um reflexo de uma sociedade que, infelizmente, ainda tolera o inaceitável. Que este texto sirva de alerta, de denúncia e de esperança. Porque o Brasil merece mais do que isso. Merece líderes dignos, instituições íntegras e um povo respeitado.


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