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A sociedade e o crime: A percepção da sociedade em relação ao crescimento da criminalidade (2025) |
Por Evandro Brasil
Crime: Nos últimos anos, eu tenho refletido profundamente sobre a percepção da sociedade em relação ao crescimento da criminalidade. Parece que a violência tomou conta do noticiário, das conversas cotidianas e, principalmente, do nosso medo. Eu mesmo, assim como milhões de brasileiros, já senti aquele frio na espinha ao esperar um ônibus de madrugada, ao caminhar em uma rua pouco iluminada ou ao atravessar uma comunidade onde o som dos tiros ecoa de forma quase natural.
O que mais me chama a atenção é que, muitas vezes, nós mesmos, enquanto sociedade, temos dificuldade de entender a origem do crime. Colocamos a culpa no Estado, nos governantes, na polícia ou até em um partido político específico, mas ignoramos a nossa própria responsabilidade no crescimento desse fenômeno. Pior: frequentemente, nós que somos vítimas da ação criminosa, acabamos, sem perceber, alimentando a engrenagem que sustenta o crime organizado.
Quero aqui compartilhar minhas reflexões, apoiadas em estudos de especialistas, notas de jornais e exemplos reais da política brasileira. Minha intenção não é acusar, mas provocar uma reflexão coletiva. Afinal, para combater o crime organizado, a sociedade precisa estar unida.
O Cotidiano das Vítimas: Medo e Indignação
Todos os dias, pessoas saem de casa para trabalhar e já carregam consigo um temor silencioso: serem assaltadas no ponto de ônibus ou dentro do transporte público. Muitas relatam à imprensa que não têm coragem de usar seus celulares no coletivo, pois sabem que correm o risco de perder o pouco que conquistaram.
Outras, infelizmente, denunciam algo ainda mais doloroso: já sofreram furtos durante operações policiais em comunidades. Há também aquelas que se tornam vítimas fatais em meio a tiroteios entre facções ou em confrontos com a própria polícia.
Esse cenário gera uma indignação coletiva. O ódio cresce, a confiança nas forças de segurança diminui e, em última instância, o descrédito na política aumenta. É como se estivéssemos em um círculo vicioso: quanto mais crime, menos acreditamos na política; quanto menos acreditamos na política, menos força temos para exigir mudanças estruturais.
A Narrativa Política: Quem É o “Culpado”?
Em meio a essa crise de confiança, o discurso político ganha força. Eu observo que, muitas vezes, políticos de direita e extrema-direita batem insistentemente na tecla de que a criminalidade é culpa da esquerda. Eles dizem, com discursos eloquentes, que partidos de esquerda "protegem bandidos", "defendem criminosos" e "são contra a polícia".
Essas falas, repetidas à exaustão, acabam confundindo a população. De um lado, cidadãos revoltados com o crime acreditam que existe um grupo político “amigo de bandido”. De outro, pessoas que questionam essas narrativas são acusadas de “passar pano para o crime”.
O resultado é que, em vez de termos debates sérios sobre segurança pública, ficamos presos em brigas ideológicas que não resolvem o problema real. Como destacou a revista Piauí em uma reportagem recente, o discurso sobre criminalidade é frequentemente usado como arma política, mais para ganhar votos do que para apresentar soluções concretas.
A Palavra dos Especialistas
Para não ficar apenas na minha análise, trago a visão de especialistas.
O sociólogo Luiz Eduardo Soares, um dos maiores estudiosos de segurança pública no Brasil, afirmou em entrevista ao jornal O Globo:
"O crime organizado não cresce no vazio. Ele precisa de redes de apoio, de conivência social e, muitas vezes, de alianças políticas. Combatê-lo exige não apenas repressão, mas também uma mudança cultural e de consumo por parte da sociedade.”
Esse trecho me marcou profundamente, porque deixa claro que a responsabilidade não é apenas da polícia ou dos governantes: ela também é nossa, como sociedade civil.
Quando a Sociedade Alimenta o Crime sem Perceber
Eu sei que pode soar duro, mas precisamos admitir: nós também alimentamos o crime em diferentes situações cotidianas. Vou dar alguns exemplos claros:
1. TV a cabo e internet clandestina
Quando contratamos serviços piratas em comunidades, estamos financiando diretamente grupos criminosos que controlam esse tipo de comércio.
2. Compra de produtos roubados ou suspeitos
Às vezes, alguém compra uma bicicleta, um celular ou até eletrodomésticos por preços muito abaixo do mercado. Muitas vezes não sabe, mas esses itens podem ser fruto de roubo ou furto. Ao comprar, a pessoa entra na cadeia criminosa como consumidora final.
3. Armas de fogo ilegais
Pessoas simples, movidas pelo medo, acabam adquirindo uma pistola com numeração raspada no comércio paralelo. Só o fato de a arma ter numeração raspada já significa que ela é fruto de crime.
4. Drogas ilícitas
Comprar uma pequena quantidade de maconha ou cocaína para uso pessoal pode parecer “inofensivo”, mas essa compra financia organizações criminosas que exploram comunidades inteiras.
Um exemplo forte foi descrito em reportagem da Folha de S. Paulo, mostrando que o tráfico de drogas movimenta bilhões de reais no Brasil, e parte desse dinheiro circula no próprio comércio das periferias, disfarçado em pequenos negócios.
O Político que Fala contra o Crime, mas Foi Pego no Crime
Aqui quero trazer um caso emblemático. O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, por exemplo, fazia discursos inflamados sobre segurança pública e combate ao crime organizado. No entanto, anos depois, ele foi preso e condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento em esquemas que desviaram milhões dos cofres públicos.
Cabral não foi o único. Como lembrou a Revista Veja, outros políticos que se diziam defensores da lei e da ordem também foram flagrados em esquemas criminosos. Isso mostra o quanto a hipocrisia política também alimenta a descrença da sociedade. Afinal, se até quem deveria dar o exemplo se envolve com crime, como esperar que a população acredite nas instituições?
Recentemente no Estado do Rio de Janeiro destaco o caso do deputado estadual TH Jóias, que em suas atividades parlamentares estava ao lado da segurança pública e do com até ao crime organizado, mas em seu cotidiano ele traficava e negociava armas, drogas, componentes eletrônicos, animais silvestres e, ainda, atendia as facções ADA, TCP e CV com serviços de câmbio.
Notas da Imprensa
Para dar sustentação ao meu argumento, destaco algumas matérias:
Estadão (2023): “Cresce o número de brasileiros que acreditam que a corrupção política está diretamente ligada ao avanço do crime organizado.”
Folha de S. Paulo (2024): “Tráfico de drogas movimenta R$ 20 bilhões por ano no Brasil e influencia diretamente a economia de comunidades.”
Revista Época (2022): “A percepção de insegurança é um dos principais fatores que levam cidadãos a apoiar discursos autoritários.”
Essas notas reforçam que o problema é complexo e que não há solução simples.
A Necessidade da União da Sociedade
Depois de todas essas reflexões, eu chego à conclusão de que não adianta apontar apenas para o Estado, para a polícia ou para a política. O combate ao crime organizado exige união social.
Isso significa que precisamos:
- Rejeitar a compra de produtos roubados.
- Denunciar irregularidades.
- Fiscalizar e cobrar transparência dos políticos.
- Exigir políticas públicas sérias, baseadas em evidências, não em discursos ideológicos.
- Investir em educação, cultura e oportunidades, que são a verdadeira raiz da prevenção do crime.
Como disse Luiz Eduardo Soares, "a mudança precisa ser estrutural e cultural".
Escrevo este texto com a convicção de que nós somos parte do problema, mas também podemos ser parte da solução. A criminalidade não vai desaparecer de um dia para o outro, mas podemos enfraquecê-la se, como sociedade, decidirmos não alimentar mais esse sistema.
Seja ao recusar comprar um produto suspeito, ao denunciar um político corrupto ou ao apoiar iniciativas comunitárias, cada gesto conta.
O crime é um câncer que se espalha, mas nós temos nas mãos a chance de não sermos mais o alimento que ele precisa para crescer.
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