Foto de Arquivo: Carro de combate Urutu e soldados do exercito brasileiro |
Por Evandro Brasil
Internacional: Em pleno 2025, o mundo presencia uma intensificação preocupante dos investimentos na indústria bélica, mesmo diante de desafios urgentes como a crise climática, a desigualdade social e a instabilidade econômica. Chefes de Estado, ao invés de priorizarem cooperação e desenvolvimento sustentável, continuam a canalizar bilhões para a produção de armamentos e tecnologias militares. O Brasil é um exemplo emblemático dessa tendência.
O governo federal anunciou R$ 112,9 bilhões em investimentos na indústria de defesa, divididos entre recursos públicos (R$ 79,8 bilhões) e privados (R$ 33,1 bilhões). Esses valores estão sendo aplicados em projetos estratégicos como satélites, radares, veículos lançadores, submarinos e aeronaves militares. A justificativa oficial é fortalecer a soberania nacional e impulsionar a inovação tecnológica. De fato, segundo o Ministério da Defesa, cada real investido na Base Industrial de Defesa (BID) gera um retorno de quase 10 vezes no PIB nacional.
Além disso, o setor emprega 2,9 milhões de pessoas diretamente e indiretamente, representando 3,58% do PIB brasileiro. Em 2024, o país exportou US$ 1,78 bilhão em produtos de defesa, um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. Empresas como Embraer, SIATT e Condor estão na vanguarda dessa expansão, com apoio de capitais estrangeiros — destaque para o grupo EDGE dos Emirados Árabes Unidos, que investiu R$ 3 bilhões em fábricas e tecnologias no Brasil.
No entanto, esse crescimento não vem sem contradições. A maior fabricante nacional de armamentos, a Avibras, enfrenta uma crise histórica: mil dias de greve, salários atrasados e ameaça de falência, com dívidas estimadas em R$ 600 milhões. A situação expõe a fragilidade da estrutura industrial e a dependência de decisões judiciais e políticas para garantir sua sobrevivência.
Globalmente, o cenário é ainda mais tenso. Segundo o Fórum Econômico Mundial, conflitos armados entre Estados são o principal risco para 2025, superando até mesmo os eventos climáticos extremos. Cerca de 25% da população mundial vive em áreas afetadas por guerras, e os gastos militares dispararam em países como EUA, China e Rússia. A indústria bélica se tornou um dos setores mais lucrativos do mercado financeiro, com ETFs de defesa valorizando até 88% em 2025.
Diante disso, é legítimo questionar: até que ponto o fortalecimento da indústria bélica representa soberania e progresso? E quando ele passa a alimentar um ciclo de dependência, instabilidade e militarização da política externa?
A resposta não é simples. A indústria de defesa pode, sim, gerar empregos, inovação e exportações. Mas quando os investimentos superam os gastos sociais, e a lógica da guerra se sobrepõe à lógica da paz, é preciso acender o alerta. Em 2025, o mundo parece mais preparado para o conflito do que para o diálogo — e isso, por si só, já é um risco que não pode ser ignorado.
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