terça-feira, 6 de maio de 2025

O espetáculo do plenário

O símbolo da escrotisse vem de Brasília e atinge nosso povo no meio 

Por Evandro Brasil 

Câmara Federal: Era para ser o templo da democracia. Um lugar onde as vozes do povo ecoassem, onde as dores das ruas fossem debatidas com seriedade, onde as decisões moldassem o futuro de um país inteiro. Mas o que vemos hoje no plenário da Câmara dos Deputados mais parece um palco de reality show — e dos piores.

Os deputados federais, eleitos para representar milhões de brasileiros, transformaram o parlamento em um cenário de vaidades, egos inflados e discursos vazios. Poucos chegam com propostas sólidas, com planos concretos para enfrentar os problemas crônicos do país: desigualdade, fome, desemprego, violência, saúde precária, educação esquecida. Em vez disso, muitos chegam com roteiros prontos, frases de efeito ensaiadas diante do espelho, indignação teatralizada. Tudo milimetricamente calculado para caber em um corte de 30 segundos que será editado e disparado nas redes sociais. O compromisso não é mais com a Constituição ou com os eleitores — é com o algoritmo.

Os problemas do Brasil? Ficam em segundo plano. Ou terceiro. Ou esquecidos no último parágrafo de um pronunciamento feito às pressas. Enquanto o povo espera soluções, os parlamentares disputam quem viraliza primeiro. Transformaram o plenário em um ringue, onde a agressividade vale mais do que a inteligência, onde a ironia barata vale mais do que a argumentação sólida. As discussões, muitas vezes, beiram o espetáculo grotesco: gritos, xingamentos, dedos em riste, ameaças veladas. Quando o debate acaba, não raro é possível ver deputados rindo, satisfeitos, enquanto seus assessores já preparam os trechos mais “quentes” para as redes.

E do lado de cá, o povo assiste. Primeiro incrédulo, depois resignado, por fim apático. A política vai perdendo o encanto, a confiança, a credibilidade. Cada pronunciamento vazio é mais um tijolo no muro da descrença. O cidadão comum, que levanta cedo para trabalhar, pega transporte lotado, enfrenta filas nos hospitais, vive com medo nas periferias, já não se vê representado. Para ele, Brasília parece um outro planeta — distante, indiferente, desconectado da realidade.

Há, é verdade, honrosas exceções. Poucos deputados tentam remar contra a maré, apresentar projetos sérios, dialogar com a sociedade, fazer política de verdade. Mas são minoria. A lógica do espetáculo é sedutora demais, e quem resiste corre o risco de desaparecer no mar de likes e compartilhamentos que movem o jogo.

A política, no entanto, não deveria ser um palco. O mandato não deveria ser uma vitrine. A democracia precisa de representantes, não de influenciadores. O Brasil precisa de parlamentares que falem menos para as câmeras e ouçam mais as ruas. Gente que compreenda que a verdadeira transformação não cabe em um vídeo de 30 segundos, mas exige trabalho árduo, paciência, renúncia de vaidades.

Quem sabe um dia a Câmara volte a ser casa do povo — e não um estúdio de gravação. Quem sabe um dia o microfone sirva mais para ouvir do que para aparecer. Até lá, seguimos assistindo, entre perplexos e cansados, ao grande espetáculo do plenário. E torcendo para que, no meio do barulho, ainda haja quem escute o que realmente importa.


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