sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O conflito entre EUA e Irã

Na quinta-feira, 2 de janeiro, a morte do general iraniano Qassim Soleimani pelos Estados Unidos exaltou ainda mais as tensões, de anos, entre Washington e Teerã. O militar, morto em Bagdá, no Iraque, era chefe de uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã.
Os EUA culpam Soleimani, considerado a segunda pessoa mais poderosa de seu país, pela morte de americanos e defendem que o ataque ao general foi uma estratégia para conter o terrorismo. Do outro lado, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaça uma grande vingança.
Em 2019
Na noite de 20 de junho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu a ordem de atacar o Irã. Aeronaves civis de empresas americanas foram orientadas a evitar o espaço aéreo iraniano, enquanto navios e aviões militares se posicionavam para abrir fogo. Trump acabaria recuando e substituindo a ação direta por um ataque cibernético contra o sistema de computadores das Forças Armadas do adversário – que, por sua vez, alegou que a ação não atingiu o objetivo.
O episódio de tensão teve início dias antes, quando os iranianos derrubaram um drone militar americano que teria invadido seu espaço aéreo (Washington nega). Não foi o primeiro, e certamente não será o último episódio de conflito entre os dois países. Trata-se, na verdade, de um longo desentendimento entre dois antigos aliados.
Estados Unidos e Irã eram muito próximos, em termos militares, comerciais e diplomáticos, ao longo de todo o século 19 e por boa parte do 20. Os parceiros romperam há 40 anos, em fevereiro de 1979.
EUA e Irã: amigos antigos
A região onde hoje fica o Irã foi sede de um dos maiores impérios da Antiguidade, o Aquemênida, fundado em 550 a.C. por Ciro, o Grande e só derrotado dois séculos depois pelas tropas de Alexandre, o Grande.
A partir do século 3, o Império Sassânida resgatou a autonomia e a prosperidade para a região – até que, no século 6, o território foi ocupado novamente, dessa vez pelos árabes muçulmanos, que transformaram o Irã (então conhecido como Pérsia) num centro de produção acadêmica e cultural.
Diferentes dinastias se sucederam, até que o Império Cajar, que havia chegado ao poder em 1794 e transformado o país numa monarquia constitucional em 1906, foi deposto em 1925. Tinha então início a dinastia Pahlavi.
Dois monarcas se sucederam no poder: Reza Xá Pahlavi governou até 1941, quando foi substituído por seu filho, Mohammad Reza Pahlavi. Até este momento, os Estados Unidos eram considerados excelentes amigos, com os quais o Irã contava sempre que se sentia ameaçado por potências estrangeiras, principalmente Rússia e Reino Unido.
Foi assim em 1911, quando o professor e missionário presbiteriano americano Howard Baskerville, que vivia em Teerã, pegou em armas para defender a democracia – acabou morto e ainda hoje é considerado um herói local. Os americanos também haviam ajudado a fundar a primeira Faculdade de Medicina do país, na década de 1870, e ao longo da década de 1910 haviam prestado consultoria a fim de organizar as finanças iranianas.
A amizade começou a ruir quando os americanos cometeram um erro: em 1953, organizaram um golpe de Estado para mudar o governo do Irã. O primeiro-ministro, eleito democraticamente, era Mohammad Mosaddegh, que tinha como meta nacionalizar empresas iranianas, em especial as produtoras de petróleo, e assim reduzir a dependência econômica em relação às potências ocidentais, em especial os Estados Unidos. Com apoio do serviço secreto britânico, o MI6, a CIA conseguiu que Mosaddegh fosse derrubado do cargo.
Uma tentativa de assassinato falhou, mas na sequência centenas de militantes pagos pela agência de inteligência americana invadiram a residência do primeiro-ministro, que acabou sendo detido e condenado por traição. Enquanto Mosaddegh passava o resto da vida em prisão domiciliar (ele morreria apenas em 1967), o monarca Mohammad Reza Xá Pahlavi assumia o controle do governo, de forma autocrática, e com total apoio dos americanos. Antes e depois do golpe, Pahlavi se encontraria pessoalmente com diversos presidentes americanos, incluindo Harry S. Truman, Dwight D. Eisenhower, John F. Kennedy e Richard Nixon.
Eixo do mal
A CIA não conseguiu prever: no fim de 1978, preparou um relatório em que afirmava que o Irã não reunia condições para o início de uma revolução. Poucas semanas depois, em fevereiro de 1979, o aiatolá Ruhollah Mūsavi Khomeini, que até então vivia no exílio em Paris, retornou a sua terra natal para conduzir uma rebelião contra o monarca. Tinha fim o reinado de Pahlavi e início a república de orientação islâmica.
Khomeini, que em 1963 havia declarado que garantir às mulheres o direito de votar e serem eleitas era o equivalente a defender a prostituição, popularizou, em manifestações públicas, a expressão “Marg bar Āmrikā”, persa para “morte à América”.
Ainda em 1979, no dia 4 de novembro, um grupo de estudantes muçulmanos invadiu a embaixada dos Estados Unidos em Teerã. Os 52 diplomatas americanos detidos só seriam liberados depois de 444 dias. Em reação, o governo americano estabeleceu um embargo que, desde então, estrangula a economia do país muçulmano. Na sequência, os americanos ainda deram suporte ao Iraque de Saddam Hussein, que invadiu o Irã em 1980, dando início a uma guerra que durou oito anos.
Em 1988, os americanos realizaram, contra poços de petróleo iranianos, sua maior operação naval de combate desde a Segunda Guerra. E, em julho, abateram, por engano, um Airbus A300B2, uma aeronave civil iraniana que conduzia 290 pessoas, de seis nações diferentes. Todos, incluindo as 66 crianças a bordo, morreram.
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush prometeu atacar o que ele chamou de “eixo do mal”, formado por Coreia do Norte e dois ex-aliados, Iraque e Irã. Desde então, os americanos acusam o Irã de desenvolver bombas atômicas – utilizando a infraestrutura, aliás,  desenvolvida com apoio dos próprios Estados Unidos na década de 1950, quando o país apostou na construção de usinas nucleares.
Tentativa de aproximação
Enquanto esteve no governo, entre 2009 e 2017, o presidente americano Barack Obama tentou se reaproximar do Irã. Em 2013, chegou a manter uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, no primeiro contato pessoal dos líderes dos dois países desde a década de 1970. As nações chegaram a costurar um acordo, em que o Irã se comprometia e interromper qualquer programa de enriquecimento de urânio a fim de produzir bombas atômicas. Em troca, os americanos retiraram o embargo econômico sobre o país.
Com a eleição de Donald Trump, os Estados Unidos cancelaram o acordo e retomaram o embargo. A tensão voltou com toda a força. Enquanto Trump ameaça invadir, os iranianos prometem fechar o acesso ao Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao restante do planeta.
Enquanto os iranianos, que veem sua economia ser estrangulada novamente, acusam os americanos de sustentar grupos rebeldes e de utilizar, com frequência, drones para investigar áreas estratégicas do país, os Estados Unidos alegam que o Irã pode iniciar uma hecatombe nuclear.

EUA x Irã: quem são os aliados de Teerã no Oriente Médio


Hassan Rouhani e Vladimir PutinDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTanto Hassan Rouhani​ como Vladimir Putin tentam expandir suas esferas de influência no Oriente Médio e se contrapor ao poder dos EUA na região
Cumprindo a promessa de "vingar" a morte do general Qasem Soleimani na sexta-feira (03), o Irã lançou vários mísseis contra bases americanas no Iraque na madrugada de quarta-feira (8).
Pouco após essa operação, o ministro do Exterior iraniano, Mohammad Javad Zarif, anunciou que Teerã dava por "concluídos" os ataques de retaliação contra os Estados Unidos e que não buscava uma escalada, tampouco uma guerra.
No entanto, um dia após os ataques contra bases americanas, um importante comandante militar iraquiano, Amir Ali Hajizadeh, disse que que a única vingança apropriada à morte de Soleimani seria a expulsão das forças americanas do Iraque.
Hajizadeh, que comanda a Força Áerea das Guardas Revolucionárias, disse que o ataque iraniano de quarta-feira teria sido o início de uma operação de larga escala na região caso os EUA tivessem respondido.
O mundo acompanha com apreensão os acontecimentos nesta semana e se pergunta que outras nações podem entrar na briga, caso haja uma escalada da tensão.
Os EUA contam com vários aliados no Oriente Médio, como Arábia Saudita e Israel.
Mas quem poderá ficar do lado do Irã em conflitos armados na região?

Rússia
Depois da morte de Soleimani, o ministro de Assuntos Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, condenou o ataque dos EUA, dizendo que o assassinato de um funcionário do governo iraniano no território de um terceiro país viola "os princípios do direito internacional e merece condenação".
As relações entre Moscou e Teerã têm sido boas desde a queda da União Soviética — os dois governos há tempos veem os Estados Unidos como rival ou inimigo.
Tanto Irã quanto Rússia tentam limitar a influência política dos EUA na Ásia Central. Os estreitos laços econômicos entre os dois países também tem ajudado o governo de Hassan Rouhani a sobreviver às severas sanções econômicas impostas pelo presidente Donald Trump ao país do Oriente Médio desde 2018.
O Irã também tem na Rússia um conveniente provedor de armas para seu envolvimento em guerras civis na região, como as do Iêmen e da Síria.
Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, tenta devolver à Rússia o status de superpotência, "o Irã quer voltar a ter um papel importante no cenário internacional", explica um dos editores da BBC Persa.
E, para alcançar esses objetivos, buscam expandir suas esferas de influência no Oriente Médio e reduzir o poder dos EUA.

Síria

Assad e RouhaniDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara muitos, o apoio do Irã tem sido vital para a permanência de Bashar al-Assad na presidência da Síria
O governo sírio de Bashar al-Assad tem, no Irã, um aliado-chave desde que estourou a guerra no país em 2011.
Soleimani desempenhou um papel essencial no manejo das forças respaldadas pelo Irã e que apoiam Assad. Por isso, a morte do general foi, também, um golpe para o presidente sírio.
O papel de Soleimani era tão importante que quando Assad fez uma rara visita a Teerã, no ano passado, foi recebido pelo general iraniano juntamente com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
O apoio do Irã a Assad é visto como crucial para a manutenção dele no poder apesar das pressões internas e externas, sobretudo dos Estados Unidos. O presidente sírio teria sido salvo por forças iranianas quando rebeldes cercaram Damasco e se apoderaram de cidades importantes do país.

Iraque

O Irã e o Iraque compartilham uma ampla fronteira e uma história milenar. As relações entre as nações se deterioraram após um golpe de Estado no Iraque em 1958. Os dois países chegaram a entrar em guerra entre 1980 e 1988 e o então presidente iraquiano, Saddam Hussein, foi apoiado pelos Estados Unidos no conflito.
Mas as relações entre Irã e Iraque melhoraram após a queda de Saddam Hussein em 2003, com a invasão norte-americana ao país. A guerra do Iraque, promovida pelos EUA, abriu caminho — ainda que essa não tenha sido a intenção do governo americano — para que o Irã aumentasse sua influência na região.
Adel Abdul Mahdi.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO premiê do Iraque, Adel Abdul Mahdi, condenou o ataque dos EUA a Soleimani
Hussein era um presidente muçulmano sunita, num país de maioria muçulmana xiita. Os iranianos, que são de maioria xiita, viram na sua derrubada uma oportunidade para fortalecer esse braço do islã na região.
Foi, assim, criada uma coalizão entre Rússia, Síria, Irã e Iraque para enfrentar conflitos civis que afetam Irã e Iraque e combater grupos extremistas, como o autodenominado Estado Islâmico e a Al Qaeda.
Agora, o território iraquiano parece ter se convertido no campo de batalha da escalada da tensão entre Irã e EUA. Embora o Iraque não tenha respaldado o Irã abertamente nesse conflito, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdi, condenou o ataque norte-americano contra Soleimani.
E alguns grupos armados existentes no Iraque, com o Kataeb Hezbollah — braço da milícia xiita libanesa no Iraque — são alguns dos aliados mais fortes de Teerã no Oriente Médio.

Milícias iraquianas

O Irã treina e financia milícias xiitas no Iraque que têm lutado contra tropas dos EUA no país desde a invasão americana em 2003. Essas mesmas forças adversárias do Exército americano também se mobilizam contra o Estado Islâmico, inimigo comum de Irã e EUA.
Entre as milícias aliadas do Irã estão o Kataeb Hezbollah, também conhecido como Hezbollah iraquiano, e a Organização Badr.
Soleimani era uma figura vital para o funcionamento dessas milícias e trabalhava em grande proximidade com elas. O mesmo bombardeio que vitimou o general iraniano matou, também, Abu Mahdi al Muhandis, líder do Kataeb Hezbollah.
Essa organização integra a chamada Força de Mobilização Popular do Iraque, uma coalizão paramilitar que agrupa cerca de 40 milícias majoritariamente xiitas, apoiada pelo Irã e incorporada às Forças Armadas do Iraque em 2016.
Estima-se que essa coalizão de milícias conte com 150 mil combatentes.

Catar

Hassan Rouhani com o ministro de Relações Exteriores do IrãDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO Catar teria fortes relações com o Irã e o Hezbollah
Em 2017, quando Arábia Saudita e seus aliados no Golfo Pérsico realizaram um bloqueio econômico ao Catar, o Irã decidiu ajudar o país enviando suprimentos diários de alimentos, com toneladas de frutas, verduras e carnes.
Desde esse incidente, os laços comerciais entre Catar e Irã não param de crescer. E, em diversas ocasiões, a Casa Branca acusou as autoridades do Catar de financiar e patrocinar "milícias pró-iranianas", como o Hezbollah.
No ano passado, o jornal britânico Sunday Telegraph revelou a existência de correspondências eletrônicas que confirmavam as estreitas relações entre altos funcionários do Catar, Qasem Soleimani e o líder do Hezbollah, Hassan Nasralá.

Hezbollah

O líder supremo do Irã com o chefe do Hezbollah Hassan Nasrallah.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDesde seu surgimento, o Hezbollah tem sido um dos aliados mais importantes da República Islâmica do Irã
O Hezbollah é uma organização política, militar e social xiita que exerce um poder considerável no Líbano.
Ele surgiu com a ajuda do Irã durante a ocupação israelense em Beirute, no início da década de 1980, e, desde então, tem sido um dos aliados mais importantes da República Islâmica.
No comando da Força Quds, Soleimani contribuiu para o crescimento e a consolidação do Hezbollah no Líbano. Atualmente, a organização é um dos grupos armados mais importantes da região e um instrumento para que a influência do Irã chegue às portas de Israel.
Há indícios de que o Hezbollah continua a receber armas e apoio financeiro do Irã na atualidade e, para muitos, essa organização atua como representante da república islâmica em conflitos com Israel.
Segundo Nathan Sales, acadêmico e advogado que ocupa cargo de coordenador da Luta contra o Terrorismo do Departamento de Estado dos EUA, o Irã provê ao Hezbollah mais de US$ 7 milhões por ano.
"Ainda que a cifra estivesse inflada, como sugerem muitos, poucos contestam que Teerã seja o maior benfeitor do Hezbollah", escreveram os cientistas políticos Ariane M. Tabatabai e Colin P. Clarke, da Universidade de Columbia, na revista Foreign Policy.
O grupo conta com um arsenal de mísseis que podem chegar a Israel, além de milhares de combatentes altamente treinados militarmente.

Militantes de Gaza

Homem com banderra palestinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFaz muitos anos que Teerã apoia grupos militantes palestinos
O Irã apoiou durante muito tempo grupos militantes palestinos, como o Hamas, em Gaza, e a Yihad Islâmica Egípcia, considerados por vários países ocidentais como organizações terroristas.
Mas, após os protestos — e queda de governos — na Primavera Árabe de 2011, as relações entre o Irã e o Hamas sofreram um revés porque a organização decidiu apoiar opositores do presidente sírio, Bashar al-Assad.
No entanto, desde 2017, o Hamas tem tentado restaurar os laços com o governo iraniano, principalmente em razão do endurecimento do bloqueio israelense na Faixa de Gaza, que resultou num duro golpe econômico para o grupo.
O Hamas vive uma grave crise financeira e parece obter a maior parte de seu sustento do Catar, portanto, é difícil que consiga apoiar militarmente o Irã num conflito armado regional.
Mas a Yihad Islâmica Egípcia, que é conhecida por ser mais violenta, poderia estar disposta a se envolver numa eventual guerra, ao lado do Irã.

Os houtis no Iêmen

militantes hutisDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionOs houtis, de maioria xiita, integram uma ampla rede de milícias armadas apoiadas por Teerã
Fixados no noroeste do Iêmen, os houtis, milicianos de um movimento majoritariamente xiita, se tornaram conhecidos internacionalmente em 2015, quando promoveram um golpe de Estado contra o presidente do Iêmen Abd Rabbuh Mansur Hadi.
Desde então, se instalou uma violenta guerra civil no país. Mansur Hadi tenta combater os rebeldes e reconquistar regiões ocupadas por eles com o apoio de uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita.
Já os houtis contam com o apoio militar e financeiro de uma rede de milícias patrocinadas pelo Irã.
O governo de Abd Rabbuh Mansur Haidi acusa os iranianos de armar a organização, mas especialistas dizem que ela não é tão financeiramente dependente assim de Teerã, obtendo armas no mercado negro e até mesmo, clandestinamente, do Exército do Iêmen.

Fontes: Portal Guia do Estudante - Entenda o conflito entre Estados Unidos e o Irã; BBC - EUA x Irã: quem são os aliados de Teerã no Oriente Médio.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Entenda os conflitos do Oriente Médio de maneira simples e eficiente

O assunto mais falado da semana foi o ataque dos norte-americanos ao lider do exercito iraniano Qassem Soleimani no Iraque. Muitos amigos me solicitaram para entender o que realmente esta acontecendo. Eu destaco que eu também tinha dificuldades em entender os conflitos, isso no contexto histórico, pois, a imprensa normalmente transmite a informação do fato com poucos registros ou com informações truncadas sobre as verdadeiras origens dos conflitos.

Para facilitar o entendimento das pessoas que acompanham o nosso blog eu trago nesta publicação os principais conflitos da região desde a criação do território de Israel.



Conflitos no Oriente Médio
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, o Oriente Médio transformou-se em uma das regiões mais instáveis do mundo.
Os conflitos ocorrem, na maioria das vezes, por fatores geoestratégicos, como o controle do petróleo, rivalidades locais e conflitos religiosos entre cristãos, judeus e muçulmanos xiittas e sunitas.
Veja neste artigo um resumo dos principais conflitos do Oriente Médio ou acesse a lista abaixo para mais detalhes.

Lista dos conflitos
·         Conflito Árabe-Israelense
·         Guerra de Suez
·         Guerra de Yom Kippur
·         Guerra Civil no Líbano
·         Revolução Fundamentalista no Irã
·         Guerra do Afeganistão
·         Conflito Irã-Iraque
·         Primeira Guerra do Golfo
·         Segunda Guerra do Golfo – Guerra do Iraque
·         Estado Islâmico
·         Primavera Árabe
·         Guerra na Síria

Conflito árabe israelense (1948-1949)
O Estado de Israel foi criado após a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1948, pela ONU, por meio de uma divisão territorial em 1947, que ficou conhecida como a Partilha da Palestina, ficando os judeus com 56,5% do território e os árabes com 42,9%. Os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza foram inicialmente destinados aos árabes que viviam na Palestina, e a área entre o vale do Rio Jordão e o litoral do Mediterrâneo foi cedida aos Israelenses.
A partilha da Palestina não foi bem vista pelas lideranças árabes na época (Egito, Síria, Iraque, Jordânia e Líbano), que imediatamente iniciaram um enfrentamento contra as forças do novo estado no Oriente Médio, originando a Primeira Guerra Árabe-Judaica (1948-1949), chamada de Guerra da Independência.
Após vencer as forças árabes muçulmanas, o Estado de Israel estava consolidado. Como consequência desse primeiro embate, milhões de palestinos tiveram que buscar exílio, refugiando-se em países vizinhos, especialmente no Líbano e na Jordânia, mediante a expansão territorial de Israel, que passou a controlar 75% da Palestina, desrespeitando os limites impostos pela ONU na Partilha de 1947. O restante da região (25%), composto pela Cisjordânia e pela Faixa de Gaza, ficaram, respectivamente, sob a ocupação da Jordânia e do Egito.

Guerra de Suez (1956)
Segunda Guerra Árabe-Judaica ocorreu em 1956, em consequência da atitude do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, que em 1952 havia derrubado o rei Faruk, de nacionalizar o Canal de Suez (ponto estratégico de ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho) e de fechar o porto de Eliat no Golfo de Ácaba, Mar Vermelho, saída israelense para o Mar Vermelho.
Os ingleses e os franceses, controladores do canal, apoiados por Israel que se viu proibido de navegar pelo canal, atacaram o Egito, que se aproximara fortemente dos soviéticos.
Guerra de Suez durou uma semana, e teve a intervenção da ONU com o apoio dos EUA, que temia a forte aproximação dos soviéticos com o Egito. Nasser manteve o domínio sobre o Canal de Suez, além da ascensão política perante a comunidade árabe por defender o pan-arabismo e combater o imperialismo norte-americano. O Egito fez parte dos países não alinhados na Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955. B.4. Guerra dos Seis.

Guerra dos Seis Dias
Em 1967, Síria, Jordânia e Egito voltaram a atacar Israel, em um episódio que ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias, sendo a Terceira Guerra Árabe-Judaica.
Novamente as forças árabes foram derrotadas e, em represália, Israel incorporou uma série de territórios ao seu redor, argumentando que tais lugares serviram como faixas de segurança contra possíveis novos ataques.
As áreas ocupadas foram a Faixa de Gaza no Egito, as Colinas de Golã na Síria, a Cisjordânia na Jordânia e a parte oriental de Jerusalém.

Guerra de Yom Kippur (Dia do Perdão)
Novamente, Egito e Síria atacaram Israel em 1973, durante o feriado religioso judaico do Yom Kippur – Guerra de Yom Kippur, sendo a Quarta Guerra Árabe-Judaica.
O apoio dos EUA a Israel acabou por não surtir o efeito desejado pelos árabes, que novamente sofreram uma derrota militar. A maneira que alguns países encontraram para retaliar o apoio dos EUA a Israel foi por meio dos países exportadores de petróleo (Opep), iniciaram aquilo o que viria a ser a primeira grande crise internacional do petróleo.


Acordo de Camp David
Em 1979, por meio do Acordo de Camp David (EUA), mediado pelos norte-americanos, a Península do Sinai foi devolvida por Israel ao Egito, cuja devolução foi concretizada em 1982.
Da parte do Egito, ficou acertado o acordo de não agressão a Israel e permissão para os judeus navegarem pelo Canal de Suez. O Egito que além de respeitar o acordo de não agressão aos judeus, tornou-se importante aliado do Ocidente, além de combater avidamente a Irmandade Muçulmana.
A Cisjordânia e a Faixa de Gaza passaram a ser alvo de políticas de assentamento de colonos israelenses como forma efetiva de ocupação territorial; as Colinas de Golã continuariam sob controle israelense.

Intifada
Entre o período de 1987 e 1993, ocorreu a primeira Intifada (levante popular) dos palestinos contra a ocupação israelense em Gaza e na Cisjordânia.
As manifestações populares, que se iniciaram em Gaza, para posterior expansão para a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, consistiam em arremessar pedras contra soldados israelenses, que frequentemente revidavam, causando mortes e prejudicando a imagem de Israel diante da comunidade internacional.
No ano de 1988, o Conselho Nacional Palestino proclamou o Estado Palestino nos territórios de Gaza e da Cisjordânia. No mesmo ano, o rei Hussein da Jordânia reconheceu a OLP como liderança legítima dos palestinos, oficializando a desistência de ocupar a Cisjordânia.
Junto com a Intifada, nasceu o grupo Hamas (despertar, em árabe), com origem na Irmandade Muçulmana (Egito), tornando-se um importante movimento de resistência islâmica na Faixa de Gaza, sendo um grupo sunita e considerado terrorista por países europeus, EUA e Israel, atuando em duas frentes: política, com trabalhos sociais junto aos palestinos, e militar com ataques terroristas contra posições israelenses, utilizando homens-bomba e lançamento de foguetes contra o território de Israel.

Guerra do Líbano
O território do Líbano viveu uma guerra civil a partir de 1958, causada pela disputa de poder entre grupos religiosos do país: os cristãos maronitas, os sunitas (muçulmanos que acreditam que o chefe de Estado deve ser eleito pelos representantes do Islã, são mais flexíveis que os xiitas), drusos, xiitas e cristãos ortodoxos.
O poder, no Líbano, era estratificado. Os cargos de chefia eram ocupados pelos cristãos maronitas, o primeiro ministro era sunita e os cargos inferiores ficavam com os drusos, xiitas e ortodoxos. No entanto, os sucessivos conflitos na Palestina fizeram com que um grande número de palestinos se refugiasse no Líbano, descontrolando o modelo de poder adotado, já que os muçulmanos passaram a constituir a maioria no Líbano.
A Síria rompeu sua aliança com a OLP e resolveu intervir no conflito ao lado dos cristãos maronitas. Durante a ocupação israelense aconteceram os massacres de Sabra e Chatila. Foi com o apoio norte-americano que o cristão maronita Amin Gemayel chegou ao poder em 1982.
Revoltados com a presença das tropas norte-americanas na região, o quartel-general da Marinha americana foi atacado em outubro de 1983 e causou a morte de 241 fuzileiros. O atentado e a pressão internacional fizeram com que os Estados Unidos retirassem suas tropas do Líbano em fevereiro de 1984. As tropas israelenses também foram retiradas do Líbano, o que enfraqueceu os cristãos.
Os drusos se aproveitaram desta situação, dominaram a região do Chuf, a leste de Beirute, e expulsaram as comunidades maronitas entre 1984 e 1985. De outro lado, o sírio Hafez Assad e seus partidários libaneses detonaram uma onda de atentados a bairros cristãos e tentavam assassinar os auxiliares do presidente Amin Gemayel, que resistiu e permaneceu no poder até 1988.
Desde então, o Líbano está tentando reconstruir sua economia e suas cidades. O país é tutelado pela Síria.

Revolução Fundamentalista no Irã (1979)
No ano de 1977, cresceu a oposição ao governo autoritário do xá, pois a modernização imposta no país era vista como “ocidentalização” pelas correntes muçulmanas tradicionais. A oposição tornou-se mais forte diante da crise econômica que atingia o país e da ampla corrupção que tomava conta do governo em 1978.
Em 1979, o xá Reza Pahlev, diante da falta de controle sobre a insurreição, deixou o poder e fugiu do país. O líder religioso aiatolá Ruholá Khomeini retornou ao país de maneira triunfal como líder da Revolução Fundamentalista, vindo do exílio na França.
Em 1º de abril, foi estabelecida a criação da República Islâmica do Irã, promovendo a formação de um Estado Teocrático, apoiado pela Guarda Revolucionária, cuja autoridade máxima seria o aiatolá, líder religioso supremo (o presidente seria eleito pelo povo, no entanto ficaria subordinado ao poder do aiatolá), sobrepondo-se às agrupações de esquerda que tiveram participação na queda do xá, porém ficaram fora do poder.
A paralisação da produção de petróleo pelo Irã e seu rompimento com o Ocidente provocaram o segundo choque ou crise do petróleo.
O Irã passou por uma reestruturação político-social como Estado Teocrático, afastando-se da “ocidentalização” por meio do fundamentalismo religioso, determinando às mulheres a obrigatoriedade de cobrirem o rosto em público – com o uso do xador –, proibindo filmes ocidentais e o consumo de álcool, impondo sua doutrina e seus costumes religiosos tradicionais etc.

Conflito Irã-Iraque (1980 a 1988)
Em setembro de 1980, tropas iraquianas (árabes) invadiram o Irã (persa), sob o pretexto de não concordar com o Tratado de Argel de 1975, que definiu os limites fronteiriços (partilha) entre os dois países no Chatt-el-Arab, canal de acesso dos iraquianos ao Golfo Pérsico por onde é escoada a produção petrolífera.
Havia, no entanto, outros fortes motivos para a guerra: a cobiça pelo petróleo na província iraniana do Cuzistão; o desejo do Iraque em recuperar terras perdidas para o país vizinho na década de 1970; a preocupação com a influência iraniana na ascensão dos xiitas que são a maioria da população iraquiana.
A preocupação com uma possível insurreição dos xiitas no Iraque levou os EUA e a Europa Ocidental a apoiar o governo iraquiano de Saddam Hussein, sunita, e que chegara ao poder por meio de um golpe em 1979.
A guerra que era para ser rápida, como Saddam Hussein havia idealizado ao Ocidente, tornou-se longa, provocando a morte de 1 milhão de pessoas e de 1,7 milhão de feridos, além de ampliar a frota norte-americana na região. O conflito terminou sem vencedor com a mediação da ONU. Khomeini morreu em 1989, sendo sucedido por Ali Khamenei, aiatolá ortodoxo. Em 1990, os dois países reataram as relações diplomáticas, com Saddam Hussein, aceitando o limite fronteiriço do canal de Chatt-el-Arab.

Guerra do Golfo
O resultado prático da Guerra Irã-Iraque foi uma enorme dívida contraída pelo governo iraquiano, agravada pelo baixo preço do barril de petróleo.
Sem ter como pagar, Saddam Hussein decidiu invadir o território do Kuwait, grande exportador de petróleo, com os seguintes interesses:
·         dominar o Kuwait que havia sido província do Iraque, segundo Saddam Hussein;
·         o território kuwaitiano era um estado-tampão, que servia aos interesses ocidentais;
·         a possibilidade de ampliar a saída para o Golfo Pérsico;
·         o domínio dos poços de petróleo serviriam para pagar a enorme conta da guerra contra o Irã.
Foi assim que, em agosto de 1990, iniciou-se a Guerra do Golfo, a qual levou novamente os EUA, maior consumidor mundial de petróleo, a intervir militarmente na região diante da anexação do território kuwaitiano pelo Iraque.
Com o aval da ONU, foi formada uma coalizão militar de forças aliadas (EUA, Reino Unido, Egito, Arábia Saudita) sob a liderança dos EUA. Os fuzileiros americanos desembarcaram no Golfo Pérsico, Operação Tempestade no Deserto em janeiro de 1991, para expulsar os soldados iraquianos, antes seus aliados.
A ONU estabeleceu sanções econômico-comerciais contra o Iraque em relação à exportação de petróleo, que teve a venda controlada, agravando a situação socioeconômica no país.

Primavera Árabe
Os conflitos no mundo árabe iniciaram-se na Tunísia, espalhando-se por outros países situados na África Branca, resultando na queda de ditadores como Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak (Egito) e Muamar Kadhafi (Líbia). Mais tarde, outros países como Marrocos, Argélia, Síria e o Iêmen, também sofreriam pressão.
A Primavera Árabe está relacionada a movimentos populares que têm em comum o fato de serem reações contra a falta de liberdade, a má qualidade de vida da maioria da população e a corrupção.


Guerra civil na Síria

A guerra civil na Síria mobilizou inicialmente a oposição representada pelo Exército Livre da Síria (ELS) contra as tropas do governo sírio. O ELS surgiu a partir da mobilização de civis durante os protestos da Primavera Árabe. Ao se juntar com militares desertores, formaram esse grupo armado que se oficializou em julho de 2011. O ELS é considerado como um grupo de origem secular, ou seja, que não está vinculado a nenhuma tendência religiosa. Representa a ala moderada da oposição.À medida que o conflitou avançou, outros grupos rebeldes foram surgindo, mas de orientação extremista. O maior desses grupos rebeldes extremistas é a Frente Fateh al-Sham (antiga Frente Al-Nusra), de orientação sunita. Esse grupo, até julho de 2016, era o braço armado da Al-Qaeda na Síria. A desvinculação da Frente Fateh al-Sham da Al-Qaeda, até onde se sabe, aconteceu pacificamente.







A crise operacional, financeira e institucional que afeta os Correios

Por Evandro Brasil  Correios: A crise dos Correios não aconteceu por acaso nem pode ser explicada por um único fator. Ela é resultado da co...