"Neste artigo o professor Evandro Brasil apresenta o resultado de uma pesquisa feita a partir de uma revisão da literatura sobre a anemia por deficiência de ferro."
Professor Evandro Brasil, pedagogo, ambientalista, pesquisador, biomédico pós graduando em microbiologia e analises clinicas.
Resumo
A
Organização Mundial da Saúde define a anemia como um estado em que a
concentração de hemoglobina do sangue é anormalmente baixa em conseqüência da
carência de um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa
carência. Na gravidez existe anemia relativa, por hemodiluição, além daquela
por carência nutricional, principalmente, por deficiência de ferro e ácido
fólico. É conhecida, a partir da literatura
especializada, a grande prevalência da anemia carencial em todas as partes do
mundo, notadamente em suas regiões mais pobre. Embora se arremeta a
característica desta patologia a um problema orgânico, a questão da
"explicação" de sua ocorrência não se reduz a essa dimensão, ou seja,
aos processos gerados por "causas" que se localizam no interior do
organismo humano, como a deficiência de consumo e absorção de alimentos e/ou a
espoliação desses mesmos nutrientes. Assim, para conhecer esse fenômeno, na sua
totalidade, é necessário ir mais além considerando, igualmente, a realidade
exterior ao organismo humano, na qual o indivíduo se insere participando de
processos sociais específicos, também determinantes, numa outra dimensão, da
carência de ferro. Anemia carencial implica recuperar os diferentes níveis de
determinação do fenômeno, níveis esses relativos a relações biológicas e
sociais definidas no processo saúde-doença.
Introdução
A
anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa
eritrocitária total. A Organização Mundial da Saúde define a anemia como um
estado em que a concentração de hemoglobina do sangue é anormalmente baixa em
conseqüência da carência de um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja
a origem dessa carência. Laboratorialmente,
definimos anemia como hemoglobina menor que 12 g/dl em mulheres ou 13 g/dl em
homens. Na gravidez existe anemia relativa, por hemodiluição, além daquela por
carência nutricional, principalmente, por deficiência de ferro e ácido fólico.
Na gestação os limites considerados normais para o valor da hemoglobina caem
para 10g% e os do hematócrito para 30%.
A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame
físico minuciosos, além de exames laboratoriais. Os sintomas relacionados à
anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de
evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais
altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais
baixos. Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e
palpitações. No exame físico o achado mais característico é a palidez
mucocutânea.
A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos
seguintes exames:
·
Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o
grau de anemia.
·
Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os
eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos (VCM > 100) ou
microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de
distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose.
·
Contagem de reticulócitos para estimar se a resposta medular
sugere incapacidade da produção – ou
hemólise - ou perda sanguínea recente.
·
Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue
periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações
concomitantes dos leucócitos e das plaquetas.
As
classificações das síndromes anêmicas podem ser classificadas quanto à
proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela
ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM).
Causas
de anemia e sua classificação de acordo com a contagem de reticulócitos e com a
morfologia das hemácias.
Metodologia
O
presente trabalho constitui o texto base para a apresentação de seminário com o
tema Anemia Ferropriva, elaborado a partir da revisão bibliográfica de artigos
e publicações acessados em revistas científicas e sites especializados.
Inicialmente foram identificados 8 (oito) artigos sobre as anemias, onde
optamos por descartar 4 (quatro) por não tratarem objetivamente da anemia
ferropriva e os 4 (quatro) artigos utilizados encontram-se indexados nas referencias
bibliográficas.
Palavras-Chaves: Anemia, Ferro, Deficiencia,
Ferropriva.
Discussão
É conhecida, a partir da literatura especializada, a grande
prevalência da anemia carencial em todas as partes do mundo, notadamente em
suas regiões mais pobres.
Tendo em vista que a ocorrência da anemia se traduz, ao nível do
organismo humano, na incapacidade do tecido eritropoiético em manter uma concentração
normal de hemoglobina, devido ao suprimento inadequado de ferro, o fato a
considerar é que a anemia, representada pela baixa concentração de hemoglobina
é, no entanto, a manifestação última de uma carência prévia que provavelmente provocou
a exaustão das reservas de ferro do organismo.
Embora se arremeta a característica desta patologia a um problema
orgânico, a questão da "explicação" de sua ocorrência não se reduz a essa
dimensão, ou seja, aos processos gerados por "causas" que se
localizam no interior do organismo humano, como a deficiência de consumo e
absorção de alimentos e/ou a espoliação desses mesmos nutrientes. Assim, para conhecer esse fenômeno, na sua totalidade, é
necessário ir mais além considerando, igualmente, a realidade exterior ao
organismo humano, na qual o indivíduo se insere participando de processos
sociais específicos, também determinantes, numa outra dimensão, da carência de
ferro. Anemia carencial implica recuperar os diferentes níveis de determinação do fenômeno, níveis
esses relativos a relações biológicas e sociais definidas no processo saúde-doença.
A deficiência de ferro é o distúrbio nutricional mais prevalente
no mundo inteiro e afeta mais de um bilhão de pessoas, principalmente mulheres em idade fértil e
pré-escolares das áreas tropicais e subtropicais (Gillespie et al., 1991).
Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a anemia afeta cerca
de 30% da população mundial, e pelo menos metade desta prevalência global pode
ser atribuída à deficiência de ferro (De Maeyer & Adiéls-Tegman, 1985). Na
América Latina, estima-se uma variação da prevalência de anemia de 13% em
homens adultos a 30% ou mais em gestantes (De Maeyer et al., 1989). No Brasil,
a deficiência de ferro tem sido reconhecida como importante causa de anemia há
mais de duas décadas (Cook et al., 1971). As estimativas da prevalência de
anemia por deficiência de ferro são escassas e geralmente sem informações sobre
reservas orgânicas de ferro da população geral (Vannucchi et al., 1992). A
maioria dos estudos disponíveis refere-se exclusivamente a crianças (Lira et
al., 1985; Sigulem et al., 1978; Monteiro & Szarfarc, 1987) e a gestantes
(Szarfarc, 1974; Salzano et al., 1980), consideradas os grupos de maior
vulne-rabilidade, ou a usuários de serviços de saúde (Salzano et al., 1985;
Szarfarc, 1985), que não compõem necessariamente uma amostra representativa da
população total. Em geral, verificam-se prevalências de anemia superiores a 50%
na população de faixa etária entre seis meses e dois anos (Monteiro &
Szarfarc, 1987; Cardoso et al., 1992).
A necessidade de intervenções para o controle da prevalência da
anemia por deficiência de ferro deve ser determinada pela magnitude da
deficiência nutricional e pelo conhecimento de seus efeitos na qualidade de
vida, na morbidade e na mortalidade. A deficiência de ferro é um estado no qual
há redução da quantidade total de ferro e o fornecimento de ferro é
insuficiente para atingir as necessidades de diferentes tecidos, incluindo as
necessidades para formação de hemoglobina (Hb) dos eritrócitos.
A anemia por deficiência de ferro (ADF) é conceitualmente um dos resultados da
deficiência de ferro e refere-se à condição de fornecimento insuficiente de
ferro à medula óssea, com conseqüente redução da concentração sangüínea de Hb
abaixo do limite inferior do intervalo de 95% de confiança da distribuição dos
valores populacionais de Hb, segundo sexo, idade e estado fisiológico (Hallberg
& Rossander-Hulthén, 1989).
A deficiência de ferro da dieta pode causar anemia principalmente
na infância, adolescência e gravidez, períodos cujas necessidades nutricionais
de ferro são altas. Porém, apesar de a dieta ser o principal fator, nem sempre
é a única causa da anemia. Outras deficiências nutricionais, infestações
parasitárias e infecções desempenham um papel importante em países tropicais
(Kasili, 1990). Doenças hemolíticas congênitas, tais como anemia falciforme e talassemia,
são encontradas em certas populações, particularmente na África, Ásia e algumas
ilhas do Oceano Pacífico (De Mayer et al., 1989).
A conseqüência mais óbvia da deficiência de ferro é a anemia com
todos os sintomas clínicos e seqüelas extensamente descritas na literatura
(Klevay, 1992). A redução da concentração de Hb sangüínea compromete o transporte
de oxigênio para os tecidos, reduzindo a capacidade de trabalho e o desempenho físico
em indivíduos anêmicos (De Maeyer et al., 1989). As bases bioquímicas desse
comprometimento não foram totalmente elucidadas, embora possam estar relacionadas
a alterações do metabolismo aeróbico (Baynes & Bothewell, 1990; Bates &
Powers, 1989).
A deficiência de ferro durante a gravidez tem sido relacionada ao
aumento da morbidade e mortalidade de gestantes e do feto. A relação entre
anemia da gestante e risco de nascimento de crianças prematuras parece
específica da ADF (Scholl et al., 1992). A concentração de Hb em recém-nascidos
correlaciona-se positivamente com níveis maternos de ferritina sérica (Hereberg
et al., 1987; De Benaze et al., 1989).
Quando a deficiência de ferro ocorre durante os primeiros dois
anos de vida, há evidências de atraso no desenvolvimento psicomotor e alterações
de comportamente (Lozoff et al., 1987; Walter et al., 1989; Heywood et al.;
1989). Segundo alguns autores, estes efeitos parecem persistir após vários
meses de tratamento com ferro (Lozoff et al., 1991;Walter, 1993). No entanto,
há extensa discussão acerca da consistência e validade externa desses dados
(Pollitt, 1991). Idjaradinata & Pollitt (1993), em estudo randomizado e duplo
cego, demonstraram que crianças de 12 a 18 meses de idade com ADF alcançaram índices
de desenvolvimento psicomotor equivalentes aos de crianças sem anemia, independente
das reservas de ferro, após quatro meses de tratamento com sulfato ferroso.
Outros estudos, entretanto, relacionam déficit psicomotor e pondoestatural com
outras variáveis de morbidade (desnutrição protéicocalórica, diarréia,
infecções), que devem ser controladas, além de se fazer a correção da
deficiência de ferro (Aukett et al., 1986; Javaid et al., 1991)
A
deficiência de ferro representa a causa mais comum de anemia e pode ser
diagnosticada observando o seguinte diagnóstico:
·
Hemograma
com anemia microcítica e hipocrômica.
·
Ferritina
< 10 ng%
·
Ferro
sérico < 30mcg% , o que denota baixo estoque
·
Capacidade
de ligação ao ferro (TBIC) alta.
Formas e
benefícios da suplementação de Ferro
A deficiência de ferro e suas múltiplas conseqüências podem ser
corrigidas através de medidas simples, de baixo custo e comprovada eficácia. A
abordagem mais usual é fornecer ferro suplementar a gestantes, nutrizes e
lactentes em programas de assistência primária à saúde. Apesar da eficácia
comprovada desses programas, sua eficiência é às vezes muito baixa.
Dificuldades relacionadas ao abastecimento, distribuição e consumo dos
suplementos de ferro são identificadas na grande maioria dos programas da rede
básica de saúde (Gillespie et al., 1991). O principal objetivo das intervenções
nutricionais é aumentar as reservas orgânicas de ferro de uma população-alvo, dentro
das limitações de recursos disponíveis (De Maeyer et al., 1989).
O controle de infecções maláricas e por helmintos,
concomitantemente às intervenções nutricionais e ações básicas de saúde,
representa uma importante estratégia na redução da prevalência da ADF. Em
regiões endêmicas de malária, os benefícios do tratamento oral com ferro
sobrepõem-se aos riscos relacionados à infecção (Gillespie et al., 1991).
Suplementação
Terapêutica
O tratamento com ferro medicamentoso deve ser utilizado em todos
os pacientes com diagnóstico clínico-laboratorial de anemia, uma vez que as
modificações da dieta por si só não podem corrigir a ADF. O tratamento de
escolha é a administração oral de ferro. A ad ministração parenteral deve ser
reservada para pacientes com intolerância ao ferro oral (De Maeyer et al.,
1989).
O sulfato ferroso é o sal de escolha devido ao seu baixo custo e
alta biodisponibilidade. A dose de tratamento depende da severidade da anemia.
Para gestantes e nutrizes, 60 mg de ferro elementar três vezes por dia na
anemia severa (Hb < 7 g/dl); na anemia leve a moderada, mesma dose duas
vezes por dia. Para lactentes, pré-escolares e escolares, recomenda-se a dose
de 3 mg/kg e peso/dia de ferro elementar; para adolescentes e adultos, a dose é
60 mg de ferro elementar duas vezes por dia para anemia moderada (Gillespie et
al., 1991). A correção da anemia geralmente ocorre em seis semanas. Entretanto,
a reposição das reservas de ferro ocorre em quatro a seis meses devido,
principalmente, à diminuição da absorção de ferro após correção da anemia
(Massey, 1992).
Os efeitos colaterais gastrintestinais, tais como náuseas, cólicas
abdominais, tais como náuseas, cólicas abdominais, obstipação e/ou diarréia,
são observados em 15 a 20% dos pacientes no tratamento oral com ferro. Estes
efeitos parecem relacionados à dose, que, apesar de prolongar o tratamento,
pode ser reduzida para atenuar os efeitos colaterais (Massey, 1992). Estudos
laboratoriais recentes com seres humanos relatam redução dos efeitos colaterais
e aumento da eficácia de uma nova forma de ferro oral — Hydrodynamically
Balanced System (HBS) ou Gastric Delivery System (GDS). Esta cápsula é capaz de
prolongar a liberação gástrica de sulfato ferroso durante várias horas sem
efeitos colaterais. Resultados preliminares mostram que uma simples cápsula de
HBS com 50 mg de ferro eqüivale a três comprimidos de sulfato ferroso com 50 mg
de ferro elementar (Cook et al., 1990). As preparações de ferro parenteral
(ferrodextran – Imferon®) não devem ser utilizadas na assistência primária à
saúde, mas são necessárias na terapêutica de indivíduos com anemia severa,
vômitos ou resistência ao tratamento. Os riscos associados ao seu uso
(complicações na malária) e o alto custo do produto e de sua distribuição restringem sua utilização somente sob supervisão
médica (Raman et al., 1989; De Maeyer et al., 1989).
Os aspectos sobre toxicidade do ferro incluem a interferência na
absorção de outros minerais (zinco, por exemplo), sobrecarga crônicade ferro
devido à hemocromatose ou talassemia, carcinogênese e consumo acidental por
crianças. A prevenção de sobrecarga de ferro na hemocromatose e nas talassemias
inclui diagnóstico e tratamento adequados dos indivíduos portadores dessas
doenças. Em relação à interferência na absorção de outros minerais, a absorção
de zinco pode ser competitivamente inibida pelo sulfato ferroso em solução
aquosa quando a concentração iônica total de ambos exceder 25 mg. Não há
evidências dessa interação competitiva na presença de alimentos (Yip et al.,
1985; Gillespie et al., 1991).
Suplementação
Preventiva
A suplementação com ferro como medida preventiva tem grande chance
de sucesso quando dirigida a grupos específicos. A cobertura de toda população
é usualmente desnecessária, logisticamente impossível e proibitivamente cara. A
suplementação preventiva deve ser dirigida a grupos vulneráveis como gestantes
e lactantes, lactentes e pré-escolares. Para escolares, a suplementação é menos
freqüentemente necessária, aconselhando-se a realização de rastreamento neste
grupo etário (Gillespie et al., 1991).
Gestantes
A suplementação com ferro deve ser distribuída a todas as
gestantes na assistência primária à saúde. Em áreas de baixa prevalência de
anemia (Hb < 11 g/dl em menos de 20% das gestantes na segunda metade da
gravidez), a dose preconizada pela OMS é de um comprimido de 60 mg de ferro
elementar por dia (200 mg de sulfato ferroso) com 250 mg de ácido fólico; em
áreas de alta prevalência, dois comprimidos por dia (120 mg de ferro elementar
e 500 mg de ácido fólico) (De Maeyer et al., 1989).
A suplementação deve ocorrer principalmente durante a segunda
metade da gravidez. Uma outra abordagem do controle da anemia na gravidez
consiste no planejamento de intervenções dirigidas a adolescentes e mulheres
antes da concepção, como também no intervalo intergestacional. Estudos-piloto
neste grupo etário têm demonstrado o efeito benéfico da suplementação nas
reservas de ferro antes da gravidez (Kaufer & Casanueva, 1990; Ballin et
al., 1992).
Lactentes
A prevenção da ADF em lactentes inclui cuidados de saúde e
promoção do aleitamento materno nos primeiros seis meses de idade. A partir do
sexto mês de idade, a dose para prevenção da ADF é de 1 mg de ferro
elementar/kg de peso/dia (Gillespie et al., 1991). No entanto, há recomendações
recentes de suplementação com ferro a partir do quarto mês de idade para
crianças em aleitamento materno exclusivo (Calvo et al., 1992; Oski, 1993).
Crianças com baixo peso ao nascer (< 2,5 kg) apresentam velocidade de crescimento
pós-natal maior; por isso, recomenda-se 2 mg de ferro elementar/kg de peso/dia
a partir do segundo mês de idade (Olivares et al., 1992; Oski, 1993). Bebês com
peso ao nascer inferior a 1 kg devem receber 4 mg/kg de peso/dia, e aqueles com
peso entre 1 e 1,5 kg, 3 mg de ferro elementar/kg de peso/dia durante o
primeiro ano de vida (Oski, 1993).
Pré-Escolares
Quando a suplementação é necessária (em áreas de alta
prevalência), a dose é 30 mg de ferro elementar/dia. Para melhorar a adesão à
suplementação, sugere-se esta dose por duas a três semanas, várias vezes ao ano
(De Maeyer et al., 1989; Smith et al., 1989).
Escolares
Se a prevalência de ADF apresentar magnitude importante, o serviço
de saúde em assistência primária e os professores poderão fornecer doses
diárias de 30 a 60 mg de ferro elementar/dia, dependendo da idade e do peso da
criança (Hathirat et al., 1992).
Avaliação
dos Programas
A ineficiência da suplementação com ferro deve-se em muitos casos
a dois motivos principais: efeitos colaterais do ferro oral (que se relacionam
à dose utilizada) e dificuldade em manter a motivação para seguimento do
programa (Schultink et al., 1993). Um estudo na Índia no período de 1985 – 1986
mostrou que o índice médio de abandono do programa nacional de suplementação
com ferro variou de 9 a 87%.
Destes, mais de 80% dos indivíduos referem a falta de suplementos
como motivo para desistência e menos de 3% referem os efeitos colaterais
(Gillespie et al., 1991). Em todos os grupos, a suplementação deve ser de curto
prazo (não mais do que quatro a cinco meses). Enquanto isso, outras medidas
terapêuticas e preventivas devem ser implementadas (fortificação de alimentos,
modificações da dieta, intervenções básicas de saúde) (Trowbridge et al.,
1993).
O perigo da suplementação de ferro em indivíduos com anormalidades
genéticas foi muito enfatizado no passado. Os estados heterozigotos (como na
anemia falciforme e b-talassemia minor) não são condições de sobrecarga de
ferro, e as reservas orgânicas de ferro desses indivíduos refletem o estado
geral da população. A alta freqüência desses genes não deve interferir no
planejamento de medidas de suplementação e fortificação com ferro (Gillespie et
al., 1991).
Há evidências epidemiológicas e bioquímicas do comprometimento do
metabolismo de ferro na deficiência de vitamina A. A administração de ferro e
vitamina A em áreas de prevalência da deficiência desses dois nutrientes
resulta em melhor resposta hematológica (Haschke & Javaid, 1991; Trowbridge
et al., 1993).
A avaliação do nível de adesão nos programas de suplementação é
necessária para estimar sua eficiência. A avaliação não deve utilizar medidas
diretas de consumo devido o seu alto custo (tempo, pessoal e equipamentos).
Métodos alternativos incluem a contagem dos comprimidos devolvidos
ou a informação pelo indivíduo ou responsável, que pode ser realizada
diretamente através do agente de saúde ou pelo agendamento de retornos em
função do número de comprimidos fornecidos (Gillespie et al., 1991).
Embora
seja uma das desordens clínico-laboratoriais mais comuns da medicina interna, mesmo
assim, ainda é uma das “campeãs” entre os erros diagnósticos na prática médica,
dado o grande número e diversidade de doenças que podem se apresentar com
redução dos níveis sanguíneos de hemoglobina. Daí a importância de se dominar
técnicas que possibilitem descobrir a verdadeira etiologia das síndromes
anêmicas. Por si só “anemia” não é um diagnóstico, mas a sua presença indica a
existência de uma doença séria. Sendo assim, não adianta somente corrigir a
anemia (p.ex. com hemotransfusão), pois se o diagnóstico etiológico for
omitido, isto poderá trazer conseqüências drásticas ao paciente.
É importante separar quais são os sinais e sintomas
atribuídos à própria anemia (fadiga, cansaço, fraqueza muscular, dispnéia,
dificuldade de concentração, palidez cutâneo-mucosa) daqueles decorrentes da
doença de base que está causando a anemia. Dados essenciais da anamnese e exame
físico que auxiliam na formulação de hipóteses diagnósticas são: icterícia,
hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia, glossite atrófica (anemias
carenciais), padrão da febre e sangramentos cutâneo-mucosos (p.ex. petéquias,
equimoses, hematomas etc.). Contudo, na grande maioria das vezes, a anamnese e
o exame físico não são suficientes para a identificação correta do diagnóstico
etiológico. Portanto, precisamos lançar mão de uma criteriosa “semiologia
laboratorial”. A bioquímica e a dosagem do TSH podem trazer “pistas”
importantes para a etiologia anêmica (ex. insuficiência renal ou adrenal,
doença hepática, distúrbios da função tireoideana). Mesmo assim, praticamente
todos os casos de anemia requerem, no mínimo, os seguintes exames:
- Hemograma completo;
- Contagem de reticulócitos;
- Esfregaço do sangue periférico;
- Laboratório do ferro (ferro, TIBC, ferritina).
- Contagem de reticulócitos;
- Esfregaço do sangue periférico;
- Laboratório do ferro (ferro, TIBC, ferritina).
Microcitose
não é indicativo exclusivo do diagóstico, pois, há outras causas de microcitose
(VCM < 80 fL) além da ferropenia: talassemias, anemia de doença
crônica, anemia sideroblástica hereditária, saturnismo, doença
da HbE. Entretanto, é correto começarmos a investigar uma anemia
microcítica com a pesquisa do “laboratório do ferro” que, neste, caso confirmou
anemia ferropriva (ferritina < 20 ng/mL e saturação de transferrina <
10%). O diagnóstico desta anemia
sempre exige a pesquisa do
“laboratório do ferro”.
O
VCM mede o volume (“tamanho”) médio das hemácias circulantes. Valor de
referência: 80-100 fL (fentolitros). De acordo com o padrão do VCM, podemos
classificar as anemias em:
- Normocíticas: VCM
80-100 fL
- Microcíticas: VCM < 80 fL
- Macrocíticas: VCM > 100 fL.
- Microcíticas: VCM < 80 fL
- Macrocíticas: VCM > 100 fL.
Quando
a anemia é normocítica, o VCM não ajuda muito na busca da
etiologia, já que as possibilidades são inúmeras. Entre as macrocíticas,
destacam-se: megaloblástica, hemolíticas, mielodisplásicas,
mieloftísicas, sideroblástica adquirida, aplásica, alcoolismo,
hipotireoidismo. Entre microcíticas, as mais comuns são: ferropriva,
talassemias, anemia de doença crônica, sideroblástica
hereditária, saturnismo, doença da HbE. Contudo, existe uma
grande interseção entre as diversas anemias quanto ao VCM. Por exemplo: a
anemia ferropriva pode ser microcítica ou normocítica; a anemia de doença
crônica geralmente é normocítica, sendo levemente microcítica em 25% dos casos;
a maioria das anemias macrocíticas também podem ser normocíticas. De qualquer
forma, existem algumas regras raramente violadas: (1) anemias
acentuadamente microcíticas (VCM < 70 fL): quase sempre são ferroprivas ou talassêmicas;
(2) anemias acentuadamente macrocíticas (VCM > 120 fL): quase sempre
são megaloblásticas.
Uma
vez confirmada presença da anemia ferropriva. É fundamental investigar algum sítio
de perda crônica de ferro, geralmente sangue oculto. As anemias ferroprivas
exclusivamente carenciais são vistas apenas em crianças ou em multíparas.
Observemos então alguns fatores a serem destacados: houve ou não uma resposta
adequada a reposição de ferro oral? Se
positivo, as razões permeiam fatores sócio-educacionais, econômicos, culturais
(...); se negativo, isso pode significar três situações: (1) a perda de
ferro é mais rápida do que a reposição, (2) existe uma síndrome intestinal
disabsortiva duodeno-jejunal (área de absorção do ferro), (3) a paciente
tem mais de um tipo de anemia, além da ferropriva. Os itens (2) e (3) devem ser
avaliados primeiro... Por exemplo, uma causa clássica de anemia ferropriva não responsiva
à ferro oral é a doença celíaca – esta doença costuma positiva para
auto-anticorpos antitrans-glutaminase (anti-tTG). Para verificar o item três,
voltemos aos fundamentos da investigação de uma anemia, a bateria de exames
iniciais: Hemograma completo; Contagem de reticulócitos; Esfregaço do sangue
periférico; e Laboratório do ferro (ferro, TIBC, ferritina). Dentre eles para
analisar a presença de um novo possível dado como a associação de mais um tipo
de anemia no mesmo paciente.
Referencias
Bibliográficas
MARTINS, I.S. et al. As
determinações biológica e social da doença: um estudo de anemia ferropriva. Rev.Saúde
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PINTO, M.E.T; et al. Anemia
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CARDOSO, M. A. & PENTEADO, M. V. C. Intervenções
Nutricionais na Anemia Ferropriva. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (2):
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ESTEVES JORDÃO, Regina;
BERNARDI, Júlia Laura D.; DE AZEVEDO BARROS FILHO, Antônio. Prevalência de anemia ferropriva no Brasil:
uma revisão sistemática. Revista Paulista de Pediatria, vol. 27, núm. 1,
março, 2009, pp. 90-98. Sociedade de Pediatria de São Paulo São Paulo, Brasil.
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