Semana de Arte Moderna
A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, nos dias 13, 15 e 17
de fevereiro, no Teatro
Municipal. Cada dia da semana foi dedicado a um tema respectivamente: Pintura e escultura;
Poesia; Literatura; e Música.
O presidente
do estado de São Paulo à época, Washington Luís, apoiou o movimento,
especialmente por meio de René
Thiollier, que solicitou patrocínio para trazer os artistas cariocas Plínio Salgado e Menotti
Del Pichia, membros de seu partido, o Partido
Republicano Paulista.
“Washington
Luís nasceu em 26 de outubro de 1869 em Macaé, RJ. Seu governo foi ultimo da “Republica
Velha” ou “República do café-com-leite”. Ele não
chegou a concluir o mandato. Foi deposto pelo movimento chamado “Revolução de 30” .
A Semana de
Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de
experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal,
pois a arte passou então da vanguarda,
para o modernismo. O evento
marcou época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos, como a poesia através da declamação, que antes era
só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia cantores sem
acompanhamento de orquestras
sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e
modernos. O adjetivo "novo" passou a ser marcado em todas estas
manifestações que propunha algo no mínimo curioso e de interesse.
Participaram
da Semana nomes consagrados do modernismo
brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros, e como um dos
organizadores o intelectual Rubens
Borba de Moraes que, entretanto,
por estar doente, dela não participou. Na ocasião da Semana de Arte Moderna, Tarsila do Amaral, considerada um dos
grandes pilares do Modernismo Brasileiro, se achava em París e, por esse
motivo, não participou do evento.
As origens
A Semana de
Arte Moderna ocorreu em uma época cheia de turbulências políticas, sociais,
econômicas e culturais. As novas vanguardas estéticas surgiam e o mundo se
espantava com as novas linguagens desprovidas de regras. Alvo de críticas e em
parte ignorada, a Semana não foi bem entendida em sua época. A Semana de Arte
Moderna se encaixa no contexto da República
Velha, controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café com leite. O
capitalismo crescia no Brasil,
consolidando a República e a elite paulista, esta totalmente influenciada pelos
padrões estéticos europeus mais tradicionais.
Seu objetivo
era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita
demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e
literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o Correio Paulistano, órgão do partido
governista paulista, em 29 de
janeiro de 1922.
Vanguardas europeias
Oswald de Andrade |
A nova
intelectualidade brasileira, dos anos de 1910 e 1920, viu-se em um momento de
necessidade de abandono dos antigos ideais estéticos do século XIX ainda em moda no país. Havia algumas
notícias sobre as experiências estéticas que ocorriam na Europa no momento, mas
ainda não se tinha certeza do que estava acontecendo e quais seriam os rumos a
se tomar.
O principal
foco de descontentamento com a ordem estética estabelecida se dava no campo da literatura (e da poesia, em especial). Exemplares do Futurismo italiano chegavam ao país e começavam
a influenciar alguns escritores, como Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida.
A jovem
pintora Anita Malfatti voltava da Europa trazendo a
experiência das novas vanguardas, e em 1917 realiza a que foi chamada de primeira
exposição modernista brasileira, com influências do cubismo, expressionismo e futurismo. A exposição causa
escândalo e é alvo de duras críticas de Monteiro
Lobato, o que foi o estopim para que a Semana de Arte Moderna tivesse o sucesso
que, com o tempo, ganhou.
O evento
A Semana, de
uma certa maneira, nada mais foi do que uma ebulição de novas idéias totalmente
libertadas, nacionalista em busca de uma identidade própria e de uma maneira
mais livre de expressão. Não se tinha, porém, um programa definido: sentia-se
muito mais um desejo de experimentar diferentes caminhos do que de definir um
único ideal moderno.
Teatro Municipal de São Paulo (1922) |
13
de fevereiro (Segunda-feira) - Casa
cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal
de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e
repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência
de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". Tudo
transcorreu em certa calma neste dia.
15
de fevereiro (Quarta-feira) - Guiomar Novais era para ser a grande atração da
noite. Contra a vontade dos demais artistas modernistas, aproveitou um
intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos consagrados, iniciativa
aplaudida pelo público. Mas a "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti
apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos
diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos…) que se alternam e confundem
com aplausos. Quando Ronald de
Carvalho lê o poema intitulado Os Sapos de Manuel
Bandeira, (poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o público faz coro
atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em algazarra. Ronald teve de
declamar o poema, pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de uma
crise de tuberculose.
17
de fevereiro (Sexta-feira) - O dia
mais tranquilo da semana, apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de
vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até
que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado
com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como
futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o
maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado…
Desdobramentos
Movimento Tropicalismo |
Vale
ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância em sua época, foi com
o tempo que ganhou valor histórico ao projetar-se ideologicamente ao longo do
século. Devido à falta de um ideário comum a todos os seus participantes, ela
desdobrou-se em diversos movimentos diferentes, todos eles declarando levar
adiante a sua herança.
Ainda assim,
nota-se até as últimas décadas do Século XX a influência da Semana de 1922,
principalmente no Tropicalismo e na geração da Lira Paulistana nos
anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção,
entre outros). O próprio nome Lira Paulistana é tirado de uma obra de Mário de Andrade.
Mesmo a Bossa Nova deve muito à turma modernista, pela
sua lição peculiar de "antropofagia", traduzindo a influência da
música popular norte-americana à linguagem brasileira do samba e do baião.
Entre os
movimentos que surgiram na década
de 1920, destacam-se:
* Movimento Pau-Brasil
* Movimento Verde-Amarelo e Grupo da
Anta
* Movimento antropofágico
A principal
forma de divulgação destas novas ideias se dava através das revistas. Entre as que se destacam,
encontram-se:
* Revista Klaxon
* Revista de Antropofagia
Antecedentes
Alguns
eventos que direta ou indiretamente motivaram a realização da Semana de 1922,
mudando as atitudes dos jovens artistas modernistas:
- 1912. Oswald de Andrade retorna da Europa, impregnado do
Futurismo de Marinetti, e afirmando que “estamos atrasados cinquenta anos em
cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo”.
- 1913. Lasar Segall, pintor lituano, realiza
“a primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso país”, nas palavras de Mário de Andrade.
- 1914. Primeira exposição de pintura
de Anita Malfatti, que retorna da
Europa trazendo influências pós-impressionistas.
- 1917. – Mário de Andrade e Oswald
de Andrade, os dois grandes líderes da primeira geração de nosso Modernismo, se tornam amigos.
- Publicação de “Há uma gota de sangue em cada
poema”; livro de poemas de Mário
de Andrade, que utilizou o pseudônimo Mário
Sobral para assinar essa obra
pacifista, protestando contra a Primeira
Guerra Mundial.
- Publicação de Moisés e Juca Mulato, poemas
regionalistas de Menotti Del
Pichia, que conseguem sucesso junto ao público.
- Publicação de A cinza das horas, de Manuel Bandeira.
- O músico francês Darius Milhaud, que vive no Rio de
Janeiro e entusiasma-se com maxixe, samba e os chorinhos de Ernesto Nazareth, se encontra com Villa-Lobos. O então jovem compositor,
já impressionado com a descoberta de Stravinski,
entra em contato com a moderna música francesa.
- Segunda exposição de Anita Malfatti, exibindo quadros
expressionistas, criticados com dureza por Monteiro
Lobato, no artigo “Paranoia ou
mistificação?”, publicado no jornal O
Estado de S. Paulo, Esse artigo é considerado o “estopim” de nosso modernismo, já que provocou a união
dos jovens artistas, levando-os a discutir a necessidade de divulgar coletivamente
o movimento.
- 1919. Publicação de Carnaval, de Manuel Bandeira, já com versos livres.
- 1921. Banquete no Palácio Trianon, em homenagem ao
lançamento de As máscaras,
de Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade faz um discurso, afirmando a chegada
da revolução modernista em nosso país.
- Exposições de quadros de Vicente do Rego Monteiro, em Recife e
no Rio de Janeiro, explorando a temática indígena.
- Mostra de desenhos e caricaturas de Di Cavalcanti, denominada “Fantoches da Meia-noite”, na
cidade de São Paulo.
- Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Cândido Mota Filho e Mário
de Andrade divulgam o Modernismo,
em revistas e jornais.
- Mário de Andrade escreve a série Os mestres do passado, analisando
esteticamente a poesia parnasiana que estava no auge da reputação literária e
mostrando a necessidade de superá-la, porque a sua missão já foi cumprida.
- Oswald de Andrade publica um artigo sobre os poemas de Mário de Andrade, intitulando-o “O meu poeta futurista”. A
partir de então, apesar da recusa de Mário
de Andrade em aceitar a
designação, a palavra “futurismo” passa a ser utilizada
indiscriminadamente para toda e qualquer manifestação de comportamento
modernista, em tom na maioria das vezes pejorativo. Em contrapartida, os
modernistas.
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